Este novo projecto de Lee Daniels era algo que aguardava com bastante curiosidade. Quer pela temática, pelo elenco, pelo realizador e pelo compositor, que era português (Rodrigo Leão), este era um dos filmes mais aguardados para este mês. Contudo, “O Mordomo” acabou por ser uma pequena desilusão, ainda assim um filme interessante que deve ser visto.
Baseado em fatos verídicos, este é um filme biográfico inspirado na vida de Eugene Allen, que aqui tem o nome de Cecil Gaines. Nascido numa plantação de algodão da Georgia, nos EUA, aprende mais tarde toda a educação necessária para servir às mesas de luxuosos hotéis. Em 1957, é contratado para servir na Casa Branca, ocupando assim o lugar de mordomo. Por mais de três décadas, Cecil vai servindo sete presidentes, de Eisenhower a Reagan, em 1986, ano em que se reforma. Durante todos estes anos da sua vida a servir naquela casa ele é reconhecido por todos pela sua competência e personalidade e acompanhamos de perto algumas das mudanças mais dramáticas da sociedade americana.
No fundo, é América vista por um homem simples que toda a sua vida serviu muito bem e de forma discreta sete presidentes dos EUA. Através da sua vida conhecemos uma parte crucial da história da América, desde a luta pelos direitos civis dos negros até à guerra do Vietname.
Com uma estrutura linear, o filme é narrado em voz off, pelo próprio mordomo. Cecil Gaines é o protagonista e portanto o centro desta história, mas a sua família (mulher e dois filhos) vai ganhando também bastante destaque à medida que a história se desenrola. Em certa medida seria preferível o filme não se perder tanto nessas histórias paralelas, podendo concentrar-se mais em contar episódios da vida do mordomo na Casa Branca. Penso que esses acontecimentos podiam ter sido mais bem explorados.
“O Mordomo” é um filme competente, com um bom argumento, mas não passa disso. Contem todos os ingredientes necessários para ser nomeado aos Óscares, mas fica um pouco à quem das expectativas geradas. A realização não é de todo o forte do filme, estando distante da sua segunda longa-metragem, o intenso drama “Precious” (2009). Era desnecessário aquele final pomposo e tendencioso que glorificava Barack Obama, por ter sido o primeiro presidente negro da América. O filme apresenta todos os elementos de uma grande produção de Hollywood feita para ganhar Óscares. A temática do racismo é algo que o cinema americano tenta sempre usar para se redimir e desculpar pelos erros cometidos no passado. Visto existirem muitos negros na América, tem também à partida um vasto público que o irá apoiar. Não é no entanto tão direto e profundo na exploração da temática como “As Serviçais” (2011) e “Django” (2012).
O elenco, depois do bom argumento, é o outro elemento forte deste filme. Quer o elenco principal e secundário de atores negros obteve boas interpretações. Com especial destaque para Forest Whitaker (que interpretou uma personagem simples e verdadeira), Oprah Winfrey e David Oyelowo.
Quanto à banda sonora de Rodrigo Leão, é bonita e merece ser nomeada aos Óscares. Mas Rodrigo já fez trabalhos bem mais interessantes. Penso que a sua música não foi sempre bem usada no filme, surgindo apenas em momentos mais dramáticos e tornava-se repetitiva.
Assim, “O Mordomo” é um filme interessante apenas pela sua história e pelo elenco, pois consegue resumir de forma dura e crua o drama sentido pelos negros na América durante mais de três décadas, que lutaram pela igualdade dos direitos civis.
Realização: Lee Daniels
Argumento: Danny Strong, Wil Haygood
Elenco: Alex Pettyfer, John Cusack, Robin Williams, James Marsden, Alan Rickman, Minka Kelly, Liev Schreiber, Jesse Williams, Lenny Kravitz, Forest Whitaker, Cuba Gooding Jr., Terrence Howard, Jane Fonda, Mariah Carey,Oprah Winfrey
EUA/2013 – Biografia
Sinopse: Baseado em fatos verídicos, o filme conta a história de um mordomo negro que serviu 8 presidentes na Casa Branca, durante o período de 1952 e 1986. A partir deste ponto de vista único, o filme traça as mudanças dramáticas que abalaram a sociedade Americana, desde o movimento pelos Direitos Civis, até à Guerra do Vietname, e a forma como essas mudanças afetaram a vida e a família deste homem.