Carlos Saura, um dos “cineastas mais fundamentais da história do cinema espanhol”, segundo a Academia de Cinema de Espanha, faleceu no passado dia 10 de fevereiro, devido a insuficiência cardíaca, na sua casa de Madrid aos 91 anos.
“Las paredes hablan”, um documentário sobre história da arte e o seu último filme, tinha acabado de estrear no início de fevereiro em Espanha, o que demonstra que Saura nunca deixou de trabalhar, continuando ativo na realização.
“Neste momento, a Academia de Cinema sente-se muito comovida com o falecimento de Carlos Saura, um dos grandes realizadores da história do cinema espanhol”, disse Fernando Méndez-Leite, presidente da Academia de Cinema de Espanha,“cuja obra altamente pessoal, variada e muito criativo, deixou uma marca indelével na história do nosso cinema e da cultura espanhola. Pessoalmente estou muito emocionado, pois tive o prazer de conhecer e conviver durante muitos anos com o Carlos, a quem considerava um professor e um amigo”.
https://www.youtube.com/watch?v=ZlYFgPfzYyQ
Nascido em 1932, quatro anos antes da Guerra Civil espanhola (1936-39), na região de Aragão, em 1952 frequentou a Escola de Cinema e em 1960, fez a sua primeira longa-metragem, chamada “Los golfos”, que teve a sua estreia mundial no Festival de Cannes e que foi censurada pelo regime de Franco. Saura foi também fotógrafo e escritor.
Autor de cerca de 50 filmes, parte da sua carreira foi feita durante a ditadura do general Franco, que terminou em 1975. A sua obra “sempre olhou para a frente, enriquecida pela criatividade que deu a cada uma das suas obras. Ousadas e impacientes, ansiosas por fragmentar a rotina a que o cinema convencional nos habituou, aportando componentes inéditos que aceleraram a sua ruptura; transferiu para a tela grande um olhar pensativo sobre as dificuldades palpáveis da sociedade espanhola da época e um simbolismo inexorável das feridas da Guerra Civil Espanhola.”
“A Carga dos Rebeldes” (1964), “A Caça” (1966), “A Colmeia” (1969), “Ana e os Lobos” (1973), “A Prima Angélica” (1974) são alguns dos mais relevantes trabalhos do cineasta feitos durante a ditadura.
“Cria Corvos” (1976), protagonizado por Geraldine Chaplin, é um dos seus filmes mais emblemáticos, conta a história de uma mulher que acredita que causou a morte inesperada do pai, um militar franquista, através de um poder misterioso. Venceu o Grande Prémio do Júri no Festival de Cannes, em 1976.
Após a instauração da democracia em Espanha o cineasta começou a abordar na sua obra a música e a dança. Seguiram-se filmes como “Bodas de Sangue” (1981), “Carmen” (1983), “Ai, Carmela!” (1990), “Sevillanas” (1992), “Flamenco” (1995), “Tango” (1998) e “Fados” (2007), filme que conta com a participação de Carlos do Carmo, Mariza ou Camané, entre outros.
Entre os vários prémios ao longo da sua carreira, destacam-se, por exemplo, o BAFTA de Melhor Filme Internacional por “Carmen” (1983), o Urso de Ouro de Berlim por “Deprisa, deprisa” (1981) e o Goya de Melhor Realização por “Ai, Carmela!” (1990).
Carlos Saura receberia este sábado (11 de fevereiro) o Goya de Honra, o prémio de carreira atribuído pela Academia de Cinema de Espanha. Os Prémios Goyas decorreram este sábado com “As Bestas” a vencer o prémio de Melhor Filme.