Depois de à terceira nomeação consecutiva para Palma de Ouro em Cannes (e quarta no total) Jacques Audiard ter levado para casa a famosa folha de palmeira graças a “Dheepan”, não seria a previsão mais fácil do mundo adivinhar que o próximo filme do francês seria um western americano anterior à Guerra Civil. A frase feita “o western está morto” parece prolongar os motivos para novos ensaios de um renascimento, quer seja de uma forma mais tradicional (exemplificando com “Indomável” dos irmãos Coen ou “Django Libertado”) ou com algumas variações (como o fantasioso “Cowboys & Aliens” ou o contemporâneo “Hell or High Water – Custe o Que Custar!”).
Audiard utiliza no seu novo filme uma história com uma aragem cómica para introduzir algo a que se pode atribuir uma nova categoria: o western de autor. “Os Irmãos Sisters” é baseado no livro homónimo escrito por Patrick deWitt, o segundo livro de ficção do ainda novato escritor canadiano. Charlie (Joaquin Phoenix) e Eli (John C. Reilly) são dois irmãos que trabalham como assassinos contratados para o Comodoro e que são retratados num episódio que qualquer um reconhece que não será apenas mais um trabalho. A sua tarefa é encontrar Hermann Warm (Riz Ahmed) com a ajuda de John Morris (Jake Gyllenhaal), recriando estes dois últimos o duo de “Nightcrawler – Repórter na Noite”.
Fica na retina a tentativa de “Os Irmãos Sisters” de indemnizar por alguma da banalidade de vários aspetos do seu argumento (diz-se aqui banalidade não no sentido insultuoso, mas pela familiaridade que esses aspetos já ganharam e que costumam frequentemente derivar para clichés). As viagens a cavalo, trocas de disparos, moralidades opostas, mudanças de lados ou a procura por um objectivo não são novas, já foram contadas e recontadas dezenas de vezes.
Mas essencialmente é esse o desafio do cinema, arquitectar novos meios de contar a mesma história através das imagens. Nesse aspeto, “Os Irmãos Sisters” não deixa grande espaço a censuras. Procura despir-se o mais possível de lugares-comuns, aliando quatro sólidas performances a uma cinematografia apelativa, que sabe quando oscilar entre o paisagístico e o intimista. Pode considerar-se também que a realização de Audiard procura retirar um pouco do foco ao enredo e redireccionar a ênfase para os conflitos internos e externos das personagens (algo que em literatura se poderia chamar de uma história character driven ao invés de plot driven). Isto acaba por resultar numa empatia com as personagens que se relaciona com a compreensão das suas motivações, dado que estas ganham uma dimensão mais humana e não se tornam meros peões narrativos.
Em última instância, a abordagem de Audiard não chega para elevar “Os Irmãos Sisters” a um nível mais alto do que aquele que poderia ser esperado. Mas, nem que seja pelo quarteto de luxo que protagoniza o filme (fica a nota especialmente para Phoenix e Reilly, que continuam a demonstrar polivalência interpretativa nos vários géneros), “Os Irmãos Sisters” vale o preço do bilhete e permite a Jacques Audiard deixar o seu carimbo no western moderno.
Realização: Jacques Audiard
Argumento: Jacques Audiard
Elenco: Alison Dickey, Michael De Luca, Pascal Caucheteux, Rosa Attab, John C. Reilly, Grégoire Sorlat, Michel Merkt
EUA/França/Espanha/2018 – Western
Sinopse: Ano de 1851. Noroeste dos Estados Unidos. Charlie e Eli Sisters (Joaquin Phoenix e John C. Reilly) são irmãos e assassinos num mundo selvagem e hostil. O mais velho, Eli, ousa sonhar com uma vida normal. O mais novo, Charlie, assumiu o papel de líder nos crimes da dupla. Cada um questiona os métodos do outro…