Parallel Planes 29

“Parallel Planes” – De Indie para Indie

“Parallel Planes” (2017), o filme documentário de Nicole Wegner teve a sua estreia em Portugal no Festival de Cinema IndieLisboa.

Inserido na secção IndieMusic, a realizadora alemã que deu os primeiros passos na MTV e que agora se ocupa como realizadora e curadora de projectos musicais baseados na cultura do it yourself, apresenta-nos o seu filme como resultado final da sua graduação pela Academia de Artes de Colónia. Um documentário ensaístico onde 12 músicos independentes apresentam o seu universo baseado numa cultura genuína ao alcance apenas dos perfeccionistas com fiéis seguidores nos géneros noise, lo-fi, hardcore ou experimental.

São músicos que tiveram poucos meios e que apresentam os seus trabalhos num universo independente para quem ainda acredita que se podem fazer coisas únicas no meio musical. Estúdios improvisados, instrumentos criativos e sons a transbordar de uma escala de decibeis que nos transportam para um ambiente sonoro improvável e único. Com exceção talvez de Michael Gira dos Swans ou Ian Mackaye dos Minor Threat e Fugazi, duas das figuras que dão os seus depoimentos no documentário, esta situação possa ter sido sentida de maneira diferente ainda nos dias de hoje. No início enfrentaram as mesmas dificuldades de músicos que se tentam tornar singulares mas acabaram por conseguir bastante popularidade nas suas carreiras e uma grande legião de fãs. O começo obscuro e a dureza inicial, retratadas também no documentário, foram difíceis até captarem o seu público. Como afirma Michael Gira (desta vez com bom temperamento neste filme) é preciso aproximar o público para depois o afastar, para haver também a liberdade do artista num processo de criação muito pouco repetitivo e transversal na idiossincrasia. O próprio documentário retrata mesmo várias gerações de músicos quer nos EUA quer na Alemanha onde os percursos são bastante semelhantes, mostrando uma realidade paralela em diferentes geografias que aproximam estes músicos nos mesmos métodos de criação e na forma de ver a indústria discográfica.

A estranheza inicial que estas bandas provocaram, as sucessivas repetições dos Swans, a raiva dos Minor Threat, a figura visual e eléctrica de Otto Von Schirach ou a voz inconfundível de Satomi Matsuzaki dos Deerhoof, são experiências únicas para quem procura crueza, ao mesmo tempo novidade e um culto quase religioso único naquele pequeno clube onde experienciou a maior diversidade sonora. Aqui o trilho musical começou no universo punk que cresceu dos anos 70 aos anos 80 quando Michael Gira e Ian Mackaye decidiram que queriam ser músicos. Ou quando os Rolling Stones editaram Start me Up e Greg Saunier dos Deerhoof ouvia em loop para a tentar reproduzir. E ainda, nos dias de hoje, quando as Erase Errata, continuam a ser a única banda feminina em festivais de noise ou rock espalhando a sua raiva política numa América que se tornou vazia em propósito.

A originalidade pode ir desde um estúdio improvisado numa casa de banho como os Xiu Xiu fizeram ou numa cave com uma acústica sonora única onde os Fugazi gravaram. O que hoje é estranho e descartado daqui a uns anos pode ser visto como uma obra prima, como diz Otto Von Schirach, que foi já apelidado desde electrónico festivo de Miami ao agora mais consensual experimental e tropical? Ou outro género por inventar…

Os caminhos destes artistas porém não têm jornadas fáceis. Muitos continuam fiéis á cultura DIY o que implica criarem as suas próprias editoras para as suas bandas e para outras em que acreditam e querem editar. A independência para gerar novas sonoridades é também o desejo que leva á luta pela sobrevivência. O dia da manhã é a incerteza se há dinheiro para a renda ou não, como afirma Weasel Walter dos ecléticos Cellular Chaos, mas a certeza que há toda uma irmandade entre músicos e público que continuam a acreditar que a diferença também é o caminho para as maiores das experiências sonoras. Muitos álbuns ficam por vender, muitas caixas acumuladas em estúdios improvisados ou nas casas de cada um mas a liberdade para criar continua a não ter preço. E com isto fica a vontade de ir ouvir Fabulous Muscles dos XIU XIU que este ano também fez 15 anos.

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