Depois da estreia de “A Opinião Pública” (1923), Charlie Chaplin regressa à personagem Charlot em “A Quimera do Ouro”, em 1925, a sua terceira longa-metragem. Chaplin quis fazer o seu maior épico entre o drama e a comédia, tendo filmado com grandes meios na Sierra Nevada, e usado milhares de figurantes, que são na sua maior parte vagabundos que foram recrutados e pagos para as filmagens.
Em “A Quimera do Ouro”, Charlot parte à procura de ouro no Alaska. Mete-se numa série de situações hilariantes e apaixona-se pela bela Georgia. Tenta conquistar o seu coração com o seu charme inconfundível.
A ideia partiu de um livro sobre uma viagem macabra de imigrantes em solo americano perdidos na montanha na corrida ao ouro. Apesar de as filmagens terem durado mais de um ano e de ter tido alguns problemas financeiros e pessoais da vida conjugal de Chaplin, o resultado visual é magnifico e o filme foi um enorme sucesso. Chaplin afirmou com frequência que “A Quimera do Ouro” era o filme pelo qual queria ser lembrado.
Em 1942, dezassete anos depois da estreia do filme (1925), Chaplin cria uma nova versão do filme. Compôs uma Banda Sonora e substitui os inter-títulos por comentários feitos por ele próprio, ou seja, Chaplin narra a história. A versão original, 1925, dura 96min e a versão sonora, 1942, dura 69min. Na versão de 1925, o filme termina com um beijo entre Chaplin e Georgia Hale, enquanto que na versão de 1942 o filme termina com Chaplin dizendo que ela será sua esposa.
Em “A Quimera do Ouro” o combate é com a Natureza, com a Natureza mais impiedosa, isto é, com a tempestade, o frio, a fome, a solidão. Existe também a crítica ao sonho americano, a lealdade e o amor.
Chaplin, mesmo com todos os recursos a que tinha acesso, manteve-se fiel a si mesmo. Sem usar grandes truques conseguiu criar alguns dos mais geniais efeitos especiais do cinema na época. Veja-se o exemplo da cena da transformação de Charlot em uma galinha. A fome atormenta Charlot e Big Jim e este, cheio de fome, começa a ter alucinações e pensa que Charlot é uma galinha. Big Jim tenta apanhar a galinha gigante para a comer. Chaplin nesta sequência usou um efeito especial, a transformação do homem para galinha, que transmite um simbolismo. A fome de Big Jim é mostrada por esta transformação em galinha. É uma analogia ao canibalismo, que é frequente no Alasca devido ao frio. Big Jim mesmo sabendo que Charlot não é uma galinha tenta-o matar na mesma, de tal é a fome. Chaplin consegue até passar os tiques de Charlot à galinha, nota-se pela sua maneira de andar.
Ficam para a história momentos inesquecíveis como a clássica cena de Charlot a comer um par de botas à refeição, usando os cordões como se fossem espaguete, ou o surgimento de um urso pardo em momentos inoportunos, ou a cena da cabana que se inclina para um precipício. Inesquecível é também a encantadora cena da dança de dois pães espetados nos garfos como se fossem pernas. Esta lendária cena demonstra a enorme criatividade e a genialidade de Chaplin.
“A Quimera do Ouro” é uma das melhores comédias de todos os tempos e uma prova de Chaplin de que a comédia e a tragédia andam sempre juntas. Sabe sempre bem regressar a Chaplin. Dá-nos uma certa esperança em saber que caso o cinema não exista mais, haverá sempre Chaplin.
Realização: Charles Chaplin
Argumento: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Georgia Hale, Mack Swain, Tom Murray
EUA/1925 – Comédia
Sinopse: Um terno e frágil vagabundo torna-se em perseguidor de ouro nas montanhas do Alaska e faz frente a brutais exploradores e às intempéries climáticas, acabando por se enamorar duma delicada bailarina.