O Cinema Sétima Arte conversou com a realizadora alemã Sophie Linnenbaum a propósito do seu filme “Os Comuns”, que integra a programação da 20ª Mostra KINO – Cinema de Expressão Alemã. O evento acontece de 2 a 18 de fevereiro, em Lisboa, e – pela primeira vez – vai para Lagos (9 a 11/02), Coimbra (14 e 15/02), e Porto (2 a 23/03).
Nascida em Nuremberg, a realizadora de 37 anos estudou psicologia e trabalhou como dramaturga antes de ingressar na Konrad Wolf Film University of Babelsberg, uma das mais antigas escolas de cinema da Alemanha. Foi enquanto esteve lá que Linnenbaum realizou a sua primeira curta-metragem, “[Out of Fra]me” (2016), que serviria de inspiração para a sua recente longa “Os Comuns”.
A trama se passa numa sociedade cinematográfica de fantasia composta por três classes: a dos personagens principais, a dos secundários e a dos outtakes (cenas eliminadas na edição de um filme). Nela, Paula é uma personagem secundária que se prepara para provar que merece ser uma personagem principal. Ao mesmo tempo, ela procura descobrir mais sobre o próprio pai, com as poucas informações dadas pela mãe, e acaba ingressando num universo marginalizado.
Como criou essa sociedade alegórica com esse metauniverso cinematográfico? Qual foi a parte mais difícil desse processo?
A ideia básica desse mundo surgiu cedo, com a minha curta “[Out of Fra]me”. É a história de um jovem tão solitário e tão pouco visto pela sociedade, que literalmente sai de cena. Em busca de uma solução, ele finalmente encontra as conexões com um grupo de pessoas com defeitos cinematográficos como jumpcutters ou “elenco errado”. Esses personagens me marcaram porque encarnam de maneira tão simples os nossos mecanismos de exclusão.
Além disso, o metaverso fílmico é um espelho ideal para as questões relativas ao poder das narrativas e à questão de quem tem o direito e a possibilidade de contar a sua própria história – tópicos que fazem parte de estruturas sociais opressoras, ou melhor, as moldam e as mantêm. O desenvolvimento do filme demorou bastante. Escrevi com o meu co-roteirista Michael Fetter Nathansky, mas também estávamos em constante troca com os nossos companheiros de outros departamentos, como cenografia, produção, montagem etc.
O mais difícil provavelmente foi manter o foco nesse mar de infinitas possibilidades e contar “apenas” essa história.
Em uma entrevista, você disse que “Os Comuns” é sobre certos grupos terem o direito de se apresentarem negado e, em vez disso, serem frequentemente definidos pela narrativa de outros. Nesse sentido, você diria que o seu filme é feminista?
Como defender a igualdade, seja entre os sexos, classes, religião, aparência, origem etc, são para mim as características do feminismo, eu definitivamente diria que o meu filme é feminista.
Quais cineastas você admira ou qual foi a última coisa que você viu feita por uma mulher que realmente te emocionou?
O último grande filme que eu vi feito por uma realizadora foi “Aftersun”, de Charlotte Wells. Pouco antes disto, eu vi o documentário “The Mission”, de Tania Anderson, um filme muito especial, comovente, engraçado e profundamente humano. E um filme que me prendeu há muito tempo é “Detroit”, de Kathryn Bigelow.
Você já tem planos para um próximo filme?
No momento estou desenvolvendo vários projetos, mas ainda é muito cedo para falar muito sobre eles.