151 artistas subscrevem carta aberta de apoio às declarações de Jonathan Glazer nos Óscares

Nan Goldin, Joaquin Phoenix, Joel Coen e Todd Haynes são alguns dos artistas judeus que consideram que os ataque a Glazer “têm um efeito silenciador” na indústria cinematográfica.
Jonathan Glazer nos Óscares 2024 Jonathan Glazer nos Óscares 2024
Jonathan Glazer nos Óscares 2024 com a sua estatueta dourada de Melhor Filme Internacional, por "A Zona de Interesse".

Segundo revelado pela Variety, a lista de subscritores de artistas judeus inclui nomes como Elliott Gould, Chloe Fineman, Boots Riley, Debra Winger, Lenny Abrahamson, Mike Leigh, Ira Sachs, Nan Goldin, Joaquin Phoenix, Joel Coen, Tessa Ross e Todd Haynes.

Todos eles apoiam as declarações do realizador inglês Jonathan Glazer nos Óscares 2024, no qual foi premiado com os Óscares de Melhor Filme Internacional e de Melhor Som por “Zona de Interesse”, um drama sobre o holocausto. Os signatários dizem ter ficado “alarmados” ao ver alguns dos colegas da indústria “descaracterizarem e denunciarem as suas declarações.”

Consideram ser “uma perigosa distracção da crescente campanha militar de Israel, que já matou mais de 32.000 palestinianos em Gaza e levou centenas de milhares de pessoas à beira da fome. Lamentamos todos aqueles que foram mortos na Palestina e em Israel ao longo de demasiadas décadas, incluindo os 1.200 israelitas mortos nos ataques do Hamas a 7 de Outubro e os 253 reféns feitos.”

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Acrescentam também que os ataques de que Glazer tem sido alvo nas últimas semanas contribuem “para um clima mais amplo de supressão da liberdade de expressão e da dissidência, as mesmas qualidades que a nossa área deve valorizar. Glazer, Tony Kushner, Steven Spielberg e inúmeros outros artistas de todas as origens condenaram o assassinato de civis palestinianos. Todos deveríamos ser capazes de fazer o mesmo sem sermos injustamente acusados de alimentar o anti-semitismo.”

O realizador britânico, de origem judaica, tem sido alvo de muitas críticas por parte de associações e personalidades judaicas desde o passado dia 10 de março, na cerimónia da 96.ª edição dos Óscares que atribuiu a “Zona de Interesse” duas estatuetas douradas. No seu discurso de agradecimento à Academia de Hollywood, o realizador  afirmou que os mortos em Israel e em Gaza foram vítimas de “desumanização”.

“O nosso filme mostra a forma como a desumanização moldou todo o nosso passado e presente (…) Neste momento, estamos aqui, como homens que refutam o seu judaísmo e criticam o facto de o Holocausto ter sido desviado por uma ocupação (…) Quer se trate das vítimas do ataque de 7 de outubro em Israel ou do ataque em curso em Gaza, de todas as vítimas desta desumanização, como é que podemos resistir?”.

Na recente carta aberta de apoio a Glazer, lembram precisamente que o realizador questionou “como podemos resistir à desumanização que levou a atrocidades em massa ao longo da história. O facto de tal declaração ser considerada uma afronta apenas sublinha a sua urgência. Deveríamos ser capazes de nomear o apartheid e a ocupação de Israel – ambos reconhecidos como tais pelas principais organizações de direitos humanos – sem sermos acusados de reescrever a história.”

“Como escreveu o Diretor do Memorial de Auschwitz, Dr. Piotr M. A. Cywiński: ’’A Zona de Interesse’ não é um filme sobre a Shoah. É principalmente um aviso profundo sobre a humanidade e a sua natureza.’ Não devemos reservar este aviso a um único grupo. Para preservar a nossa humanidade e garantir a nossa sobrevivência mútua, devemos soar o alarme quando qualquer grupo enfrenta tal brutalidade e atos de apagamento.”

“Somos judeus orgulhosos que denunciam a transformação da identidade judaica e da memória do Holocausto em armas para justificar o que muitos especialistas em direito internacional, incluindo os principais estudiosos do Holocausto, identificaram como um “genocídio em formação”. Rejeitamos a falsa escolha entre a segurança judaica e a liberdade palestiniana. Apoiamos todos aqueles que apelam a um cessar-fogo permanente, incluindo o regresso seguro de todos os reféns e a entrega imediata de ajuda a Gaza, e o fim do bombardeamento e do cerco contínuos de Israel a Gaza.”

“Honramos o Holocausto dizendo: Nunca mais para ninguém”, conclui a carta aberta.

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