«Bestas do Sul Selvagem» – Uma fábula indie

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Tudo começou no Festival de Sundance 2012, quando venceu o grande prémio do júri na secção de Drama. Desde então venceu prémios um pouco por todo o lado, como em Cannes, em Toronto e conquistou a crítica internacional. Surpreendeu todos ao conseguir quatro nomeações para os Óscares, Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Atriz e Melhor Argumento Original. “Bestas do Sul Selvagem” é a primeira longa-metragem do jovem realizador americano Benh Zeitlin que tem vindo a dar um maior enfoque ao cinema independente americano.

Com um orçamento reduzido, Benh Zeitlin conta-nos uma fábula americana num tom realista. Um híbrido entre real e fantasia. Esta é a história de uma rapariga de seis anos, Hushpuppy (Quvenzhané Wallis), que vive com o seu pai desleixado e doente, que vê o seu pequeno mundo, uma comunidade esquecida e separada do resto do mundo (filmado na região do Louisiana), a desmoronar-se, quando um forte furacão faz subir o nível do mar, inundando a sua aldeia. No seu imaginário existe uma mãe, que na realidade está desaparecida, e Hushpuppy sonha com animais, bestas, já extintos, que no final lhe dão força para sozinha ter que enfrentar o mundo real. O seu desafio será sobretudo lutar e sobreviver por conta própria.

Esta é uma história dramática com personagens fortes e corajosas. Num mundo de miséria, violência e de adultos, há o lado inocente e doce das crianças, que tem de aprender a sobreviver naquele mundo que conhecem, pois não conhecem outro. A história desenvolve-se ao longo do filme com um olhar realista, sendo que pelo meio surgem cenas oníricas e fantasiosas, que a certa altura se tornam exageradas, podendo o filme viver muito bem sem elas. Ou seja, saltamos entre o mundo real e os sonhos da jovem. Mas o simbolismo das ‘bestas’ ou ‘monstros’ (os auroques, seres já extintos) era importante para o realizador. Sendo que muitas vezes vemos como ‘bestas’ ou animais os seres humanos, como seres selvagens, que vivem sem lei e ordem e vivem apenas para sobreviver. A morte é algo que está sempre presente no filme e no mundo de Hushpuppy. O seu pai encontra-se a dias de morrer e a sua mãe parece estar morta, nunca se sabe. A rapariga não desiste de procura-la, porque o desejo de ter uma mãe, de alguém que cuide por ela constantemente é enorme, já que aparentemente o seu pai a negligencia. Hushpuppy tem de aprender o sentido normal das coisas, do universo, porque todos temos de morrer um dia. Tudo tem que se desfazer para voltar a nascer. O filme pode parecer melodramático e triste por pensarmos que aquelas personagens não tem futuro, mas na verdade, penso que nos dá uma motivação positiva sobre a vida.

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Este filme destaca-se de imediato pelo seu look antigo e mágico, possível por ter sido filmado em 16mm, o que nos dias de hoje é uma raridade. Destaca-se também pela câmara sempre em movimento, que nunca pára, que segue a aventura da pequena Hushpuppy, que tem como família apenas o seu pai e os seus vizinhos; assim como pela maravilhosa interpretação da jovem atriz Quvenzhané Wallis, que já fez história ao ter sido nomeada para o Óscar de Melhor Atriz, com apenas nove anos de idade. O seu olhar, as suas expressões e a sua interacção com os adultos convence-nos e emociona-nos.

“Bestas do Sul Selvagem” é um drama indie americano muito bom, diferente do que estamos habituados a ver nos cinemas hoje em dia. Tendo em conta que 90% dos filmes que passam nas salas de cinema são provenientes de Hollywood, sabe bem viver diferentes experiências de um cinema livre, puro e realista.

Pl5BvwjwC0fsFBEXmMlSz31s 4Realização: Benh Zeitlin

Argumento: Benh Zeitlin

Elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Levy Easterly

EUA/2012 – Drama/Fantasia

Sinopse: Numa comunidade esquecida mas desafiante de uma zona pantanosa separada do mundo por um extenso dique, a pequena Hushpuppy, de seis anos, vive em risco de ficar órfã. Com a mãe há muito desaparecida e o seu querido pai, Wink, descontrolado e sempre na farra, Hushpuppy está entregue à sua própria sorte numa zona isolada cheia de animais semi-selvagens. Para ela o mundo natural é uma frágil rede de coisas que vivem, respiram, pulsam e de cujo funcionamento perfeito depende todo o universo. Por isso, quando a tempestade do século faz subir as águas em torno da aldeia, o pai fica doente subitamente e ferozes criaturas pré-históricas acordam dos seus túmulos gelados para investir através do planeta, Hushpuppy vê entrar em colapso à sua volta a ordem natural de tudo o que lhe é querido. Desesperada para reparar a estrutura do seu mundo de modo a salvar o seu pai enfermo e a sua casa inundada, a pequena heroína tem de aprender a sobreviver a uma irreversível catástrofe de proporções épicas.

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