«Blindspotting – À Queima-Roupa» – Ângulo morto no Estado Dourado da Califórnia

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A realidade é complexa. A realidade é ambígua. A realidade é alterada pelo local onde o sujeito se encontra. A realidade é apropriada pelo olho do espetador. Fechas um olho e vês um negro a tentar sobreviver os últimos três dias da sua pena. Abre de novo e fechas o outro. Vês um branco a gerir a sua fúria enquanto acha que protege o seu melhor amigo. Fechas os dois olhos e tens tempo para refletir sobre a gentrificação da área de Oakland no estado da Califórnia, com a pressão da riqueza gerada pela proximidade a Sylicon Valley. Tens visão para sentir que a cor da tua pele é uma licença para poderes ser morto num encontro com a polícia. Tens discernimento para decidires que tipo de pessoa vais querer ser assim que a tua vida recomeçar. Tens liberdade para escolher o lado da barricada onde te vais posicionar.

Este filme escrito por Daveed Diggs e Rafael Casal é uma obra refrescante numa época de estreias em que em larga medida, os blockbusters abundam e a qualidade dos filmes se mede pela quantidade de bilhetes que vende. Assim, estes dois autores e protagonistas do filme, conseguem de uma forma muito competente lançar questões para que o espetador se confronte e saia da sala de cinema com muita conversa e material de discussão com a companhia ou consigo mesmo. Com isto, não pretendo dar a entender que o filme é brilhante do ponto de vista da realização ou mesmo de construção narrativa. É uma estória inspirada pela estilo borgiano de jardins de caminhos bifurcados, mas algo transparente para o espetador mais experiente. O estilo de realização também não é particularmente inovador, recorrendo em diversos momentos aos códigos mais simples e elementares do cinema norte-americano, como o plano demasiado explicativo e demorado para o público alvo ter tempo de se aperceber, sem ser alienado por um filme mais denso e opaco.

Surge um paradoxo após estes dois parágrafos, já que parecem contraditórios. Contudo, na verdade, ambos são factuais e não se excluem. O conteúdo do filme, bem como a sua honestidade ao nível do desempenho dos autores, principalmente dos protagonistas e da frescura que o diálogo em rap se ao início se estranha, depois entranha-se e participa na adaptação do conteúdo e na união do conteúdo aos temas e às vidas que se retratam. Pela surpresa, pela estreia, pela inovação e pela densidade do conteúdo é um filme a ver e autores a seguir.

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41f9e7ed84ec24a37809124714ec3a454db2759b 4RealizaçãoCarlos López Estrada
ArgumentoRafael CasalDaveed Diggs
ElencoDaveed DiggsRafael CasalJanina Gavankar
EUA/2018 – Comédia/Drama
Sinopse
: Collin (Daveed Diggs) deve aproveitar os seus três últimos dias de liberdade condicional para a oportunidade de um novo recomeço. Ele e seu problemático amigo de infância, Miles (Rafael Casal), trabalham como estafetas e, quando Collin testemunha um tiroteio policial, a amizade dos dois homens é colocada à prova à medida que eles lidam com a identidade e as suas realidades no bairro onde cresceram.

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3.5
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