José Mojica Marins, mais conhecido como Zé do Caixão, é uma verdadeira lenda do cinema e do horror brasileiro. Ator, realizador, produtor e guionista, ele é o centro das atenções na exposição “Além, Muito Além do Zé do Caixão”, que está sendo realizada em São Paulo.
A Mostra “Além, Muito Além do Zé do Caixão” busca explorar todas as facetas de Mojica, revelando aspectos pouco conhecidos de sua trajetória. A informação é de Daniel Mello, da Agência Brasil.
“A minha geração, por exemplo, conheceu o Zé como um cara de programa de auditório, uma coisa meio caricata, daquela figura com as unhas grandes. Não era todo mundo que sabia que o cara tinha feito mais de 100 produções”, explica o curador da mostra, Marcelo Colaiacovo.
Nessa extensa carreira, que começa na década de 1940 e chega aos anos 2000, além do terror, Mojica dirigiu e atuou em filmes de faroeste, aventura, dramas sombrios (noir) e comédia.
“Tem filmes de sexo explícito, que a gente deixou mais para o segundo andar, uma coisa mais 18 anos”, completa Colaiacovo sobre a organização da mostra. Podem ser vistos cartazes dos filmes, objetos cênicos, trechos de algumas produções e colagens inéditas.
Obras inéditas de Zé do Caixão
Além de sua contribuição para o cinema, José Mojica Marins também teve incursões indiretas nas artes plásticas. Colaiacovo explica que nos anos 1990, quando o cinema na ‘Boca do Lixo’ entrou em declínio no Brasil, José dedicava-se a recortar revistas, combinando paisagens e elementos de seus próprios cartazes. Ele os utilizava em colagens, acrescentando pinturas com canetinha.
Uma outra raridade presente é uma cena perdida do primeiro longa-metragem “A Sina do Aventureiro”, um faroeste de 1958. Essa película foi digitalizada artesanalmente por Colaiacovo e integra o acervo sob sua responsabilidade.
Além do caixão
Os filmes produzidos por Mojica com recursos limitados não apenas deixaram sua marca na história do cinema nacional, mas também servem de referência para o género em diversas partes do mundo.
Liz Marins, uma das filhas de Mojica, recorda que o renomado realizador norte-americano Tim Burton, em suas visitas a São Paulo, teve a oportunidade de se encontrar com o criador do Zé do Caixão e expressou sua admiração pelo trabalho dele.
“Papai foi uma das referências do Tim. É muito forte isso, porque o trabalho do Tim é maravilhoso também”, diz Liz.
Criatividade
Com uma incrível dose de criatividade, Mojica conseguiu criar cenas e efeitos que pareciam exigir muito mais recursos do que aqueles disponíveis para ele.
Um exemplo marcante, conforme relatado por Liz, ocorre em “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”, onde o realizador simula uma cena externa em um bosque dentro de um espaço do tamanho de um quarto.
“O negócio é impressionante, ele correndo, perseguido por mortos-vivos pela floresta, você vai pensar que isso foi um cemitério. Uma gravação externa. Nunca você vai imaginar que aquilo lá era pessoal correndo meio que em círculos”, relata Liz.
O start
O primeiro estúdio de José Mojica Marins foi um galinheiro adaptado.
Segundo Colaiacovo, foi ali que Mojica produziu seus primeiros filmes amadores na década de 1940.
Vindo de uma família de artistas circenses espanhóis, o curador da exposição relata que desde cedo ele esteve imerso na arte e no cinema, dada a atividade cinematográfica ser uma das ocupações de seu pai.
A exposição
A exposição pode ser vista na Rua do Triunfo, 155, no centro paulistano, de quarta-feira a sábado, das 10h às 16h. A entrada é gratuita.