O terceiro dia do certame (16 maio) ficou marcado sobretudo pela estreia de “Como Treinares o Teu Dragão 2″, de Dean DeBlois, no ecrã do Grand Théâtre Lumière para celebrar os vinte anos dos estúdios de animação Dreamworks. Foi uma estreia que contou com a presença do elenco de vozes na passadeira vermelha, como por exemplo, Cate Blanchett, que falou sobre o facto de emprestar a sua voz a uma personagem animada: “É um privilégio poder viver esta experiência. Eu e os meus filhos adorámos o primeiro volume. Há muito humor no filme. É também um filme que tem um enorme coração. Enquanto actores, utilizamos todo o nosso corpo para comunicar. Aqui, apenas utilizamos a voz e é uma experiência espantosa. A grande diferença é também que não damos réplica aos outros actores, gravamos sozinhos diante de um microfone”!
Na secção competitiva, o realizador turco Nuri Bilge Ceylan (“Era Uma Vez na Anatólia”) volta a Cannes este ano com “Winter Sleep”, a sua sétima longa-metragem e o filme mais longo da competição, com três horas e dezassete minutos, filmado nas planícies da Anatólia. O filme impressionou uma boa parte da crítica, sendo que o The Guardian comparou o realizador a Bergman e definiu o filme como “um profundo estudo do carácter humano, um filme incrível”.
O segundo filme em competição a ser projectado nesse dia foi “The Captives”, do canadiano Atom Egoyan. Um filme bastante polémico que foi mal recebido em Cannes, pela crítica e o público, sobre o o abuso das relações entre as pessoas próximas de uma menina vítima de rapto. Uma abordagem que lembra a que adoptara em “O Futuro Radioso” (1997), obra de transição da sua filmografia. Atom Egoyan, acerca da génese do seu filme: “A ideia deste filme ocorreu-me quando estava na costa oeste do Canadá. Um rapaz acabava de desaparecer tragicamente num parque ao pé de mim. Aliás continuam ainda cartazes neste parque sobre esse assunto, mesmo sendo ele procurado desde há muitos anos. Esta notícia andou muito tempo na minha cabeça. E a história do filme tomou forma.”. O The Guardian definiu-o como uma “ressaca terrivel”.
No quarto dia do festival (17 maio), na secção competitiva, o realizador Bertrand Bonello regressa a Cannes pela quarta vez, com um filme sobre a vida do criador Yves Saint Laurent, interpretado por Gaspard Ulliel. Depois de “Apollonide – Memórias de um bordel“ em Competição em 2011 e “Tiresia” em 2003, a sexta longa-metragem do realizador elabora um retrato sombrio e luminoso do ícone da alta-costura. “Saint Laurent” revela um génio da moda angustiado e frágil. Com Yves Saint Laurent, temos uma verdadeira personagem romanesca, bastante louca. O lado visual, luxuoso, flamejante é evidente neste destino fora das normas”. O filme dividiu a crítica.
O filme que neste dia se revelou numa boa surpresa, foi a comédia de humor negro “Relatos salvajes”, do realizador argentino Damian Szifron, que se estreia na competição oficial de Cannes com a sua terceira longa-metragem. Repleto de humor, “Relatos salvajes” é um filme de gaveta no qual combinam “vingança e destruição”. As personagens atravessam a fronteira que separa a civilização da barbárie. Uma traição amorosa, o retornoao passado, uma tragédia,ou mesmo a violência de um detalhe quotidiano, levam estas personagens a perderas estrbeiras e aexperimentar o prazer do descontrolo emocional. O realizador disse me conferência de imprensa que, “Inicialmente havia mais narrativas, 12 exatamente. No final escolhi seis e a reunião desses contos, mais selvagem que os outros, deu o título ao filme. Quanto à ordem: as histórias estão ordenadas no sentido de uma montanha russa emocional, não há verdadeiramente uma ordem.”. Embora o tema seja pesado, o humor negro dá outra vida ao filme. Mais uma vez a Argentina consegue agradar a crítica.