A 77.ª edição do Festival de Cannes teve início na quarta-feira, 15 de maio, e, tal como Portugal, o Brasil também está representado em terras francesas. À semelhança de Portugal, o Brasil participa com seis produções.
Competição oficial
Nesta edição, na competição oficial de Cannes, onde são atribuídos os prémios mais prestigiados do festival, o Brasil está representado por “Motel Destino”, do cearense Karim Aïnouz.
“Motel Destino” é um thriller erótico protagonizado por Iago Xavier, Nataly Rocha e Fábio Assunção e foi inteiramente filmado no Ceará, estado natal de Aïnouz.
O estabelecimento que dá título ao filme é o principal personagem do enredo e o local onde se entrecruzam questões crónicas da realidade brasileira. O motel é o pano de fundo da história de Heraldo (Iago Xavier), que chega em uma noite e transforma o cotidiano do local.
No ano passado, Aïnouz competiu na mesma categoria com “Firebrand”, estrelado por Alicia Vikander e Jude Law nos papéis de Catarina Parr e Henrique VIII. O filme conta a história de Catarina Parr, a sexta esposa de Henrique VIII, e o seu difícil casamento com um homem poderoso que tinha decapitado duas das suas esposas anteriores.
A trama realça a coragem e as convicções de Catarina, uma defensora do protestantismo que procura uma igreja mais inclusiva, mesmo numa época em que o povo não tinha o direito de ler a Bíblia em inglês. Com o seu primeiro filme em inglês, Aïnouz procurou recuperar o interesse pela rainha esquecida e denunciar o machismo histórico. O filme aborda temas como o abuso doméstico e a luta pela sobrevivência de Catarina, indo para além dos registos históricos convencionais.
Na competição de longas-metragens estão incluídos, entre outros, “Megalopolis”, de Francis Ford Coppola, “The Shrouds”, de David Cronenberg, “Grand Tour”, de Miguel Gomes, “Oh Canada”, de Paul Schrader, “Marcello Mio”, de Christophe Honoré, “Parthenope”, de Paolo Sorrentino, “Anora”, de Sean Baker, “Kinds of Kindness” do grego Yorgos Lanthimos, que volta a contar com Emma Stone no elenco, entre outros.
Fora da categoria, o brasileiro já venceu a mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar) com o drama “A Vida Invisível”.
Semana da Crítica
Na Semana da Crítica, estreiam-se dois filmes: a longa-metragem “Baby”, o segundo filme de Marcelo Caetano, e a curta-metragem de animação “A Menina e o Pote”, de Valentina Homem.
Em “Baby” acompanhamos uma história de amor moderna e conturbada, uma paixão que vem de uma amizade e é difícil de ser definida.
O enredo gira em torno de Wellington (João Pedro Mariano), que, após sair de um centro de detenção para jovens, sente-se desorientado. Em suas andanças pelo Centro de São Paulo, ele encontra o garoto de programa Ronaldo (Ricardo Teodoro). Os dois desenvolvem uma relação que se transforma em um amor singular, repleto de conflitos e desavenças, mas também de cuidado, cumplicidade e proteção.
A animação de Valentina Homem, por sua vez, desenrola-se num mundo distópico, onde o fim parece estar próximo.
Nesta realidade, uma menina descobre que a chave para a transformação reside num objeto simples: o seu pote, que guarda um segredo profundo e misterioso. Ao partir acidentalmente o pote, desencadeia uma série de eventos extraordinários, abrindo portais para universos paralelos. Neste momento crucial, a menina encontra-se imersa num tempo de mudança, onde a criação de um novo mundo não é apenas uma possibilidade, mas uma necessidade premente.
A curta-metragem não só explora as fronteiras da realidade, mas também ecoa os desafios e questionamentos do mundo contemporâneo.
Mostra competitiva de curtas
O Brasil assegurou um lugar na mostra competitiva de curtas com o filme “Amarela”, realizado por André Hayato Saito.
Na curta-metragem de Hayato Saito, somos transportados para o dia da final da Copa do Mundo entre o Brasil e a França. É neste cenário que Erika Oguihara, uma adolescente nipo-brasileira que desafia as tradições familiares, se vê confrontada com uma violência que parece passar despercebida, mergulhando num mar doloroso de emoções.

Quinzena dos Realizadores
Na Quinzena dos Realizadores também estará presente uma obra brasileira: o documentário “A Queda do Céu”, realizado por Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha.
O documentário da dupla centra-se no importante ritual fúnebre, Reahu, que mobiliza a comunidade de Watorikɨ numa colaboração para sustentar o céu, através do poderoso testemunho do xamã e líder Yanomami Davi Kopenawa.
Este filme explora a profunda conexão dos povos indígenas com a natureza e a sua luta incansável contra o desmatamento.

Cannes Classics
Encerrando, uma versão restaurada de “Bye Bye Brasil” (1978), realizada por Cacá Diegues, será exibida na mostra Cannes Classics.
Em “Bye Bye Brasil”, Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha são três artistas ambulantes que viajam pelo país com a Caravana Rolidei, apresentando espetáculos para as comunidades mais carentes, que ainda não têm acesso à televisão.
Eles são acompanhados pelo sanfoneiro Ciço (Fábio Jr.) e sua esposa, Dasdô (Zaira Zambelli), enquanto a caravana atravessa a Amazónia em direção a Brasília.