“Crónicas de França”: Uma tour de France pela The New Yorker

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Elisabeth Moss, Owen Wilson, Tilda Swinton, Fisher Stevens and Griffin Dunne in the film THE FRENCH DISPATCH. Photo Courtesy of Searchlight Pictures. © 2020 Twentieth Century Fox Film Corporation All Rights Reserved

O último filme do realizador Wes Anderson “The French Dispatch-Crónicas de França do Liberty, Kansas Evening Sun, estreado por estes dias, quase que poderia ser um Cluedo para referências culturais que todos os geeks ou presumidos intelectuais quereriam jogar.

O realizador não traz nada de novo à sua estética se não a sabedoria de a elevar ainda mais em relação ao seu último filme. Se Moonrise Kingdom já tinha sido uma ode à juventude e The Grand Budapest Hotel uma mestria na minuciosidade do pormenor mais particular da miudeza (e por aqui podia continuar até à migalha, esquecendo-me propositadamente de Isle of Dogs), estas Crónicas de França então são o perfeito balanço do belo e da homenagem aos bons contadores de histórias.

A acção passa-se nos anos 60, numa redação de uma revista americana instalada em França, que, pelo que Wes Anderson anda a contar nas entrevistas, é inspirada (de facto) nas publicações semanais da The New Yorker ou mesmo da Paris Review. Para isso conta com o gang de actores de estimação de sempre e uns outros de quem nunca ninguém ouviu falar estes últimos anos como o Timothée Chalamet, Elisabeth Moss (basta só aparecer e congela qualquer momento), Benicio del Toro a rosnar e claro um toque francês sem franja para a Léa Seydoux. Bill Murray interpreta o editor da revista, personagem baseada no editor fundador da The New Yorker, Harold Ross, que prepara uma edição de fecho memorável com as melhores histórias contadas.

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Timothée Chalamet and Lyna Khoudri in the film THE FRENCH DISPATCH. Photo Courtesy of Searchlight Pictures. © 2021 20th Century Studios All Rights Reserved

São três as acções/crónicas principais a que assistimos durante as duas horas do filme. Facilmente reconhecemos um James Baldwin sem nunca perder a postura, referências a Hergé mesmo sendo belga, uma banda sonora encantada por Jarvis Cocker enquanto Bill Cunnigham anda de bicicleta, ou cenários fictícios claramente inspirados em Truffaut e Tati enquanto poesia no Maio de 68.

O filme são apenas histórias inventadas num universo cénico que Wes Anderson nos continua a enfeitiçar. Tem animação, tem banda desenhada, tem perseguições e mesmo assim pode ser o que qualquer adulto deseja sem disfarçar um sorriso. Chamem o que quiserem, mas é uma carta de amor ao jornalismo, ou pelo menos aos verdadeiros colegas jornalistas que Wes Anderson imaginou que existissem e admirou (e que ao dia de hoje não existe). Mas para ficção sobre reportagens teremos sempre Paris….e Wes Anderson.

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