Imagem & Revolução: 40 Anos de Abril – Abril por Alfredo Cunha

"As Armas e o Povo" (1975), realizado pelos Trabalhadores da Actividade Cinematográfica "As Armas e o Povo" (1975), realizado pelos Trabalhadores da Actividade Cinematográfica
"As Armas e o Povo" (1975), realizado pelos Trabalhadores da Actividade Cinematográfica

25 de Abril de 1974, por Alfredo Cunha

“As fotografias abrem as portas do passado. Contudo também permitem avistar o futuro” – Sally Mann

A fotografia tem destas coisas. Após 40 Anos da revolução do 25 de Abril de 1974, as memórias guardadas sobre este dia permanecem vivas. Pelo menos na imagem sabe-se que a sua vivacidade é e será certamente sentida sempre, não tivesse sido este dia um dos mais importantes da história de Portugal. O pós-revolução abriu portas à imagem, aos fotógrafos e cineastas que sentiram necessidade de mostrar o seu trabalho, criar as correntes artísticas, os coletivos e companhias, a análise crítica sobre o assunto. Era importante documentar todo este período.

Foi um bocado na lógica de Lewis Hine. Na obsessão por contar a história com imagens. Na sua sumptuosa afirmação de que “se pudéssemos contar a história apenas com palavras, não andava com a câmara”. A imagem doou um grande contributo para a liberdade e democracia. A fotografia tinha a possibilidade de congelar momentos. Eternizar gestos, olhares, comemorações e revoltas. A máquina fotográfica era a resposta interessante que destruía a pergunta. Naquele dia, há 40 anos, muitos foram os fotógrafos que decidiram sair para a rua também. Fotografar a revolução, uma revolução que também era deles.

Neste dia, estava presente Alfredo Cunha. Com apenas 20 anos, e poucos anos de experiência. Era por aquela altura fotojornalista do Jornal “O Século”. Era apenas mais um. Um corpo irrequieto que transportava consigo a máquina fotográfica e com ela percorria logo pela manhã as movimentações das tropas lideradas por Salgueiro Maia. Fotografava aqui e ali. Captava instantes e mais instantes. Mais do que fotografar a revolução, Alfredo Cunha fotografou as suas gentes. Foi às entranhas do olhar, insistiu, trabalhou o detalhe como um detetive, mostrou o que tinha de se mostrar, para agora se ver e recordar. O retrato realizado a Salgueiro Maia é ao mesmo tempo tão verdadeiro como enigmático. A verdade estava imposta na fotografia, no retrato realizado, na vontade e na crença transportada no olhar que aquela fotografia eternizou. O enigma surge na leitura do acontecimento. Sobretudo na leitura feita após 40 anos da revolução. Não foi por acaso que se iniciou este texto com a citação de Sally Mann. O que diria Salgueiro Maia deste presente/futuro? Não sabemos. E talvez nada haverá para saber. A fotografia faz-nos viajar pelo invisível das coisas e, neste caso, o retrato exprime-se pelas suas forças, pelo seu imaginário… Aqui Alfredo Cunha esteve irrepreensível.

Alfredo Cunha lançou em março deste ano mais um livro de fotografias da revolução, intitulado “Os Rapazes dos Tanques”, editado pela Porto Editora. O livro apresenta-nos as imagens e testemunhos na primeira pessoa dos “rapazes” que estiveram frente a frente no Terreiro do Paço e no Carmo, no dia 25 de abril de 1974. “Nos 40 anos do 25 de Abril, este álbum recolhe as fotografias históricas que Alfredo Cunha registou nesse dia e junta-lhes uma reportagem de Adelino Gomes com alguns dos homens, então jovens soldados, cujos rostos essas fotos fixaram para sempre”. Paralelamente, o fotógrafo tem vindo a realizar várias exposições por todo o país com essas mesmas imagens, sendo que uma delas foi no Porto, no Centro Português de Fotografia. No dia 12 de abril, dia da inauguração no CPF, o Cinema 7.ª Arte fez questão de estar presente e de poder estar perto do autor, tendo realizado uma curta entrevista, que se segue em baixo.

 

C7A – Sabendo que fotografou durante toda a revolução, tinha tempo para pensar na imagem, ou era apenas o acontecimento que o movia para “disparar”?

AC – Sim, tinha algum tempo para pensar a imagem. Tinha consciência do que estava a fazer quer em termos estéticos da reprodução da imagem, quer da consciência política, da importância de toda a situação.

C7A – Acha que as suas fotografias conseguiram eternizar o momento da revolução?

AC – Algumas. Duas ou três. Nomeadamente a do Salgueiro Maia. As restantes também foram importantes, contudo destaco essa do Salgueiro Maia e a primeira fotografia que tirei no dia da revolução (primeira fotografia do livro “Os Rapazes dos Tanques”).

C7A – Quais são para si as fronteiras entre o fotojornalismo e a fotografia documental?

AC – A fronteira é a verdade. O fotojornalismo é a verdade. A fotografia documental também o pode ser. Contudo pode ser outra coisa, mais conceptual.

C7A – Se a Revolução dos Cravos tivesse falhado, o que teria feito com todas as fotografias daquele dia?

AC – Antes do 25 de Abril de 1974 tinha pensado fugir de Portugal para não ir para a guerra colonial. Se aquilo tivesse falhado, tinha fugido com as fotografias (risos).

C7A – Quais são as suas referências dentro da fotografia?

AC – As minhas referências na fotografia são várias. Eugene Smith, Eugene Richards, James Natchwey, Henri Cartier-Bresson. Na fotografia portuguesa não tenho nenhuma referência.

Fotografias gentilmente autorizadas por Alfredo Cunha

Imagem banner – Fotografia de Paulo Pimenta

Artigo escrito por Rafael Farias

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