Um filme sobre o 16º presidente norte-americano, talvez o presidente mais querido dos americanos, revelava ser um filme bastante patriótico. E assim foi. “Lincoln” é um filme cheio de sentimentalismo, que pretende seduzir o espectador pela figura humanizada de Abraham Lincoln.
Adaptando a obra “Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln” escrita, em 2005, por Doris Kearns Goodwin, a ação passa-se nos últimos quatro meses da vida de Abraham Lincoln, onde este tenta terminar com a guerra civil e convencer os democratas aprovarem a 13ª Emenda à Constituição americana, abolindo a escravatura em 1865.
Não é a primeira vez que este presidente americano teve a honra de ser tratado no cinema. O grande John Ford em “A Grande Esperança” (1939) deu-nos um jovem Lincoln (um dos melhores desempenhos de Henry Fonda) sempre bem humorado e relaxado, que queria ser advogado, ajudar as pessoas e que viria a ser o futuro 16º presidente dos EUA. Este continua a ser o melhor retrato sobre o republicano Abe Lincoln.
Este é um filme bastante patriótico e político, ou não fossem 90% dos diálogos sobre política e os seus bastidores. Uma constante troca de palavras, sem dinâmica nenhuma. Já para não falar dos longos monólogos de Lincoln. O filme assume-e claramente como anti-esclavagista, e a temática sobre o racismo é explorada, mas a meu ver, mal, ou pouco. Só nos é dado o lado dos brancos, nunca o lado de quem verdadeiramente sofreu durante décadas. Tarantino, em “Django Libertado”, consegue ser mais direto na sua crítica ao racismo e à escravatura do que Spielberg.
Está tudo muito direitinho, demasiado certinho para um realizador que já conta com quase 30 longas-metragens e alguns Óscares, pelo que devia colocar de lado todo este academismo. Spielberg não consegue inovar desde “Relatório Minoritário” (2002). O seu cinema tem sido quase sempre o mesmo, exceto “Munique” (2005), que consegue ser um bom filme. “Lincoln” tem ainda muito do cinema de “Cavalo de Guerra” (2011), um cinema sentimentalista e não de sentimento. Assim como a banda sonora de John Williams, que irrita por ser tão semelhante com anteriores trabalhos, como em “Cavalo de Guerra”, por exemplo.
Daniel Day-Lewis é o pilar central deste filme e, na verdade, o único. Ele é que sustenta este penosamente longo melodrama. Olhamos para a cara de Daniel e vemos nos seus olhos que estamos perante o velho e lutador Lincoln. O restante elenco pouco ou nada faz.
“Lincoln” conta com 12 nomeações, entre elas a de melhor filme, realizador, actor principal (Daniel Day-Lewis) e secundário (Tommy Lee Jones), assumindo-se como favorito à corrida aos Óscares, que este ano estão bastante politizados. Só merecia levar para casa o de melhor ator. No final, fica um produto tipicamente ‘encomenda’ para ganhar Óscares, não passa disso. Sabe a muito pouco este último filme de Spielberg e pouco ficamos a saber sobre Lincoln. Fica-se por ser uma aula de história da América e nem é das melhores.
Realização: Steven Spielberg
Argumento: Tony Kushner
Elenco: Daniel Day-Lewis, Joseph Gordon-Levitt, Tommy Lee Jones, James Spader, Sally Field, Lee Pace
EUA/2012 – Drama
Sinopse: “Lincoln” é adaptado do livro biográfico «Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln», de Doris Kearns Goodwin, mas em vez de retratar toda a vida do presidente norte-americano centra-se apenas nos seus últimos quatro meses de vida, nomeadamente na abolição da escravatura e no fim da Guerra Civil Americana. A votação renhida na Câmara dos Representantes pela 13ª emenda, que ilegaliza a escravatura, é um dos pontos centrais do filme.