A 43ª edição do Festival Efebo d’Oro terminou neste passado dia 20, e este ano o prémio Efebo d’Oro- Banca Popolare Sant’Angelo pela realização vitalícia foi atribuído a Costa-Gavras, realizador grego naturalizado francês, cineasta cuja filmografia é sinónimo de compromisso civil e honestidade intelectual.
O Efebo d’Oro Nuovi lingue – Città di Palermo foi concedido a Constanze Ruhm, cineasta austríaco, realizador, artista, autor e curador, cujas obras investigam a conexão entre cinema, novas mídias e arquivos, com foco na representação e na performatividade em relação à historiografia feminista. O prémio, escreve o júri do Efebo, é “pela capacidade de revisitar a história do cinema e dos movimentos político-culturais, estabelecendo uma relação sem precedentes com materiais de arquivo; através de um processo criativo que traz à tona na filigrana uma contra-história, que dá voz à marginalidade, à dinâmica latente da imagem cinematográfica, ao olhar feminino muitas vezes invisível“.
O júri presidido por Egle Palazzolo (presidente do Centro de Pesquisa em Ficção e Cinema) e também composto por Roberto Escobar (crítico de cinema), Frédéric Farrucci (diretor), Olivia Magnani (atriz) e Leena Pasanen (diretora do Festival biografilm), atribui o prémio Efebo d’Oro pelo melhor filme baseado numa obra literária a “O ano da morte de Ricardo Reis” (Portugal, Portugal, 2020) de João Botelho “porque hoje mais do que nunca a sua escrita cinematográfica é rica e significativa na qual se propõe uma militância política que se tornou uma clara força de inspiração e compromisso evocativo. Com ‘O ano da morte de Ricardo Reis’, tomado com sabedoria e coragem de uma obra de José Saramago, este extraordinário realizador português, por sua vez, nos dá a linha, mas ao mesmo tempo autonomamente, de uma obra real e poética em que até mesmo o preto e branco escolhidos até à cor da parte final do filme se tornam poesia e aumentam a alternância de chuva e luzes, a da realidade das esperanças e sonhos traídos que se tornaram impossíveis. Mas, no entanto, deixam a subtil esperança – sublinha a motivação do prémio dado – de que a morte não é um símbolo de derrota, mas pode tornar-se um símbolo perene de grande resistência e recursos do homem. E certamente do artista e da arte“, justifica o júri.
“O Ano da Morte de Ricardo Reis” é produzido pela produtora Ar de Filmes e conta com Chico Díaz (no papel de R. Reis), Victoria Guerra, Catarina Wallenstein, Dinarte Branco, Pedro Lacerda, entre outros no elenco. João Ribeiro, que trabalhou em filmes como “Cartas da Guerra” (2016), “Treblinka” (2016) e “Luz Obscura” (2017), assina a direção de fotografia desta produção filmada a preto e branco.
João Botelho já tinha adaptado ao cinema outras obras literárias de autores como Eça de Queirós, com “Os Maias: Cenas da Vida Romântica” (2014), Fernando Pessoa, com “Filme do Desassossego” (2010) e Agustina Bessa-Luís, com “A Corte do Norte” (2008), e Fernão Mendes Pinto com “Peregrinação” (2017).
O filme “O Ano da Morte de Ricardo Reis” teve estreia no canal televisivo da RTP1 no passado dia 5 de novembro.