«Ousadas e Golpistas» – Jennifer Lopez brilha, o filme não tanto

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“Ousadas e Golpistas” – de título original “Hustlers” – é o mais recente filme de Lorene Scafaria. A cineasta americana tem créditos tanto na televisão, tendo dirigido episódios da série “New Girl” e alguns telefilmes, como no cinema: a comédia romântica “Até que o Fim do Mundo nos Separe” (2012) e a comédia dramática “The Meddler” (2015).

O seu novo filme conta a história de Dorothy, uma estreante num clube de strip nova-iorquino. Dorothy, sob o nome de palco de Destiny, tem dificuldade em seduzir a clientela e encontra em Ramona Vega, uma stripper veterana interpretada por Jennifer Lopez, a mentora ideal. Assim começam uma parceria profissional e uma bela amizade, que serão testadas quando se dá o crash da bolsa norte-americana em 2008. Do elenco constam também Keke Palmer, Lili Reinhart e Madeline Brewer.

“Ousadas e Golpistas” é tecnicamente a história de um crime, mas é na verdade a história de uma amizade. O público vai acompanhando o laço entre Dorothy e Ramona, passando por vários bons momentos: a noite gelada em que se conhecem no telhado do clube, a cena no stand de automóveis quando “Gimme More” de Britney Spears toca na rádio, entre outros. É louvável como Scafaria é empática na forma como retrata todas as strippers. Este não é um filme pejorativo ou vulgar, mas sim uma homenagem às mulheres e à irmandade que formam entre si. Adicionalmente, “Hustlers” é extremamente divertido. Cenas como uma hilariante experiência culinária com drogas, e frases como a de Ramona “are you an investor in this place?” fazem do filme um excelente entretenimento. São 110 minutos dinâmicos, cómicos e de pura diversão.

A grande falha de “Ousadas e Golpistas” começa com o casting de Constance Wu no papel principal. Já em “Asiáticos Doidos e Ricos” (“Crazy Rich Asians”, 2018) Wu não fora memorável e acabara suplantada pelas boas interpretações do restante elenco, em particular de Michelle Yeoh e Awkwafina. Em “Hustlers”, a história repete-se: qualquer personagem é mais interessante que a de Wu. Tal não é tanto culpa do argumento, como é da prestação da actriz. É certo que a qualidade dos diálogos e de certas cenas não ajuda, mas é Wu que falha em transmitir a atitude insegura de uma novata num meio intimidante. O que passa para o ecrã é um ar de desdém, como se tudo em seu redor a aborrecesse, como se estivesse a rodar o filme por obrigação, não por vontade própria.

No que diz respeito à realização, Scafaria recorre aos mesmos truques ao longo de todo o filme: um deles a insistência em fazer cenas em slow-motion, outro o uso de música para marcar o ritmo da cena. Sempre que as personagens entram no clube de strip, a entrada é em slow-motion e pontuada por uma canção pop. A banda sonora por vezes funciona (como é o caso da dança de J-Lo ao som de “Criminal” de Fiona Apple), outras vezes não (veja-se a sequência em que “Royals” de Lorde, canção sobre luxo e dinheiro, toca quando Ramona se dirige a um multibanco…).

Narrativamente, o filme alterna constantemente entre o passado – a execução do golpe pelas ousadas strippers no ano de 2008 – e o presente – uma entrevista a Dorothy sobre o sucedido há sete anos. É uma estrutura que prejudica o filme, pois nada de interessante ou relevante decorre no presente: uma série de cenas mal filmadas, mal escritas e mal representadas (tanto por Wu, como por Julia Stiles no papel de jornalista). A acção, a diversão, a adrenalina e Jennifer Lopez – a actriz que bem gostaríamos que estivesse presente em todas as cenas – estão em 2008. A interpretação de Lopez só por si é surpreendente o suficiente para que se justifique ver o filme.

“Ousadas e Golpistas” tem conseguido um enorme – e algo inesperado – sucesso junto da crítica e do público. O próximo grupo que o filme tentará encantar será a Academia de Hollywood, o que duvido que se verifique. Jennifer Lopez será por certo nomeada para o Óscar de Melhor Actriz Secundária – quem sabe se não o vence – mas essa será a única nomeação do filme. “Hustlers” poderia ter sido mais do que um mero veículo para J-Lo brilhar, mas infelizmente não foi o caso. É uma comédia dramática, que é seguramente cómica, mas que falha redondamente o carácter dramático.

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2.5
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