A Academia Portuguesa de Cinema escolheu “Sobreviventes”, de José Barahona, para representar Portugal nos Prémios Ariel 2025, na categoria de Melhor Filme Ibero-americano, atribuída pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas do México.
O vencedor da edição passada foi o espanhol “A Sociedade da Neve”, de J. A. Bayona, que também foi nomeado ao Óscar de Melhor Filme Internacional em 2024.
Sobreviventes
Um dos últimos trabalhos de Barahona, “Sobreviventes”, revive a história do naufrágio de um navio negreiro entre Angola e o Brasil em meados do século XIX, numa época em que o tráfico já estava em declínio. O argumento foi escrito por Barahona em parceria com o escritor angolano José Eduardo Agualusa.
O elenco é composto, entre outros, por Miguel Damião, Allex Miranda, Anabela Moreira e Roberto Bomtempo.
José Barahora
Falecido no final do ano passado, José Barahona dedicou a sua vida ao cinema, deixando uma obra marcada pelo interesse em temas históricos, sociais e políticos.
Formado em cinema em Lisboa, aprofundou os seus estudos na Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños, em Cuba, e na New York Film Academy, nos EUA. Iniciou a sua trajectória no audiovisual nos anos 90 e, ao longo das décadas, construiu uma carreira versátil, desempenhando funções como argumentista, técnico de som, produtor e realizador.
Como realizador, estreou-se no registo documental com uma curta-metragem dedicada ao compositor Vianna da Mota, seu bisavô, e com “Anos de Guerra — Guiné 1963-1974” (2000), uma reflexão sobre o período colonial.
O documentário consolidou-se como um dos seus géneros de eleição, destacando-se obras como “Buenos Aires Hora Zero” (2004), “Milho” (2008) — vencedor do Prémio CineEco 2009, em Seia — e “O Manuscrito Perdido” (2010), distinguido com o Prémio TV Brasil de Melhor Longa-Metragem na 15.ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, no Rio de Janeiro.
Na longa-metragem de ficção, destacou-se com “Estive em Lisboa e lembrei de você”, uma coprodução luso-brasileira baseada na obra de Luiz Ruffato, que recebeu os Prémios Cineuphoria em Portugal nas categorias de Melhor Ator, Melhor Argumento, Melhor Música e Prémio do Público. A sua forte ligação ao Brasil, onde viveu e trabalhou, refletiu-se também na sua colaboração com a produtora Refinaria Filmes.
Temas como o colonialismo e a militância política atravessam a sua filmografia. Em “Alma Clandestina” (2018), abordou a luta de Maria Auxiliadora Lara Barcelos contra a ditadura brasileira. Já em “Nheengatu — A Língua da Amazónia” (2020), investigou a herança linguística imposta pelos colonizadores aos povos indígenas da região.
Este último filme foi amplamente premiado, conquistando, entre outros, o Prémio de Melhor Documentário no XXVI Festival Caminhos do Cinema Português, o Prémio de Melhor Documentário no 17.º CineAmazónia e os Prémios de Melhor Realização e Melhor Desenho de Som no 15.º Fest Aruanda. Além disso, foi distinguido com o Prémio ETNOMATOGRAF e um prémio no 18.º Millenium Docs Against Gravity, na Polónia.
Prémios Ariel
Promovidos e organizados pela Academia Mexicana de Artes e Ciências Cinematográficas, os prémios Ariel são celebrados desde 1947 e reconhecem os realizadores, criadores, intérpretes e técnicos do cinema mexicano, mas também o melhor do cinema ibero-americano através da categoria Melhor Filme Ibero-americano com o prémio Ariel de prata.