A International Union of Cinemas (UNIC), uma associação europeia que representa as exibidoras de salas de cinema em 38 territórios na Europa, criticou a decisão a selecção de filmes da Netflix para a 76.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que se realiza de 28 de agosto a 7 de setembro em Veneza.
As seleções eram esperadas, mas isso não as impediu de receberem críticas ferozes. A associação descreve a presença de filmes da Netflix em Veneza como uma “ferramenta de marketing” para a Netflix. “A inclusão de filmes em seleções oficiais que estão ao alcance de todos – e não apenas dos utilizadores da plataforma de streaming – beneficia o público como um todo”, afirma a associação. “Já para os filmes que estão disponíveis somente nessas plataformas, ou recebem apenas um lançamento ‘técnico’ limitado nos cinemas, a seleção para festivais e prémios torna-se, na verdade, apenas um instrumento de marketing em que à maioria da potencial audiência é recusado o acesso à riqueza de grande conteúdo”, salienta a associação no seu comunicado.
Os membros da UNIC incluem os dois principais exibidores de cinema de Itália, o Cinema Associazione Nazionale Esercenti (ANEC) e a Associazione Nazionale Esercenti Multiplex (ANEM). No ano passado, estas organizações emitiram uma declaração firme para o Festival de Veneza, na qual condenaram a inclusão de filmes da plataforma de streaming. No ano passado foi “Roma”, de Alfonso Cuarón, vencedor do Leão de Ouro de Veneza, que levou o festival a receber uma avalanche de críticas por parte das salas de cinema europeias. Não pela decisão do júri presidido por Guillermo del Toro ou pelo mérito artístico do filme, mas por considerarem que o festival é um “instrumento de marketing” para a Netflix, promovendo muito os seus filmes e por estes terem uma presença muito limitada nos cinemas italianos, o que provocou um retrocesso.
Este ano, o festival de cinema mais antigo do mundo, continua a dar o seu apoio aos filmes da Netflix. Os filmes da plataforma de streaming anunciados para a competição principal são “The Laundromat”, de Steven Soderbergh, e “Marriage Story”, de Noah Baumbach. Fora de competição, a Netflix tem “The King”, de David Michod, protagonizado por Timothee Chalamet e Robert Pattinson. Também fora de competição estará “Seberg”, de Benedict Andrews, com Kristen Stewart, da Amazon Studios.
Enquanto Veneza (assim como Toronto e Berlim) continua a programar filmes das plataformas de streaming na sua secção competitiva, já Cannes não tem feito isso nos últimos dois anos devido às restritas leis de exibição nas salas de cinema de França e à pressão dos exibidores do país.
Recorde-se que em abril de 2019 a Netflix andava em negociações com a Cinemateca Americana para comprar uma histórica sala de cinema nos EUA, para assim começar a dominar a indústria do cinema, instalando-se no mercado de exibição. Pode ser este o próximo caminho do monstro do streaming.