A Spcine exibirá o drama “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, nos 25 CEUs (Centros Educacionais Unificados) de São Paulo, a partir da próxima quinta-feira (20/2), conforme adiantou Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo.
Esses centros, localizados em áreas historicamente carentes de equipamentos culturais, fazem parte do circuito de cinema coordenado pela empresa audiovisual da câmara municipal, e a entrada será gratuita.
Além dos CEUs, o filme também será exibido no Centro Cultural São Paulo (CCSP), no Centro de Formação Cultural Tiradentes e no Centro Cultural Olido, com bilhetes a R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia).
Os dias e horários das sessões ainda não foram divulgados, mas estarão disponíveis na página de Instagram da Spcine e no site www.circuitospcine.com.br a partir de segunda-feira (17/2).
A ação foi idealizada por Emiliano Zapata, director de Inovações e Políticas Audiovisuais da Spcine.
“É muito importante que, agora, tão perto da estreia, as pessoas desses territórios possam ter a oportunidade de aceder a um filme pelo qual o Brasil inteiro está a torcer”, declarou Zapata.
Esta não é a primeira iniciativa deste género. Em 25 de janeiro, durante as celebrações do aniversário de São Paulo, a Spcine organizou uma exibição gratuita do longa de Salles no Jardim Suspenso do CCSP.
Nessa ocasião, mais de 500 pessoas tentaram garantir bilhetes para as 150 vagas disponíveis.
Ainda Estou Aqui
O filme, ambientado no Brasil na década de 1970, retrata um país em plena crise, cada vez mais controlado pela repressão da ditadura militar. Baseado nas memórias de Marcelo Rubens Paiva, a trama mergulha na dura realidade da família Paiva.
A viver numa casa à beira-mar, a família mantém as suas portas sempre abertas aos amigos. O carinho e o humor que partilham entre si tornam-se formas subtis de resistência à opressão que domina o país.
Contudo, essa harmonia familiar é quebrada por um acto violento e sem justificação, que alterará os seus destinos para sempre. Após o sequestro de Rubens pela Polícia Militar, que o faz desaparecer sob a sua custódia, Eunice vê-se obrigada a se reinventar e a procurar um novo caminho para ela e para os filhos.
O caminho até os óscares
A corrida para os Óscares tem destas histórias que, com o perdão do trocadilho, parecem saídas de um argumento de cinema. E a trajetória do drama estrelado por Fernanda Torres é mais uma dessas. A cada premiação, “Ainda Estou Aqui” vai ganhando força, pavimentando o seu caminho até a grande noite da indústria cinematográfica.
Com nomeações para Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e a cobiçada categoria de Melhor Atriz, a produção tem trilhado um percurso admirável na temporada 2024/2025.
A consagração começou no 81.º Festival de Veneza, onde, em sua estreia mundial, conquistou o prémio de Melhor Argumento, com um texto assinado por Murilo Hauser e Heitor Lorega.
Desde então, a recepção foi calorosa em festivais importantes, como a Mostra de São Paulo, o Festival Internacional de Vancouver e o Festival de Cinema de Mill Valley, onde o filme levou os prémios do público.
E os louros só aumentaram. Torres fez história ao conquistar o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama, um feito que solidificou ainda mais a presença da produção na temporada de prémios.
O filme garantiu uma nomeação para os BAFTA, na categoria de Melhor Filme em Língua Não Inglesa, e venceu o Prémio FIPRESCI de Melhor Filme Internacional no 36.º Festival Internacional de Cinema de Palm Springs. A aclamação crítica espalhou-se pelo continente, rendendo também o reconhecimento da Associação de Críticos de Porto Rico.
E não parou por aí, “Ainda Estou Aqui” levou para casa o prémio de Melhor Filme Estrangeiro nos New Mexico Critics Awards 2024 e garantiu uma nomeação nos Critics’ Choice Awards 2025 para Melhor Filme em Língua Estrangeira. Nos Satellite Awards, novamente brilhou, com Torres a disputar o troféu de Melhor Atriz em Filme de Drama e a produção a concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional.
Em solo francês, antes da polémica crítica de Jacques Mandelbaum, o filme arrebatou o Prémio do Público e o Prémio Danielle Le Roy, concedido por um júri jovem no Festival de Pessac.
E, claro, cruzou o Atlântico e chegou às páginas da The Hollywood Reporter, que o colocou entre os dez melhores filmes de 2024.
Mais recentemente, em casa, alcançou o reconhecimento da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) através do seu prémio anual, que lhe atribuiu os galardões de Melhor Filme e Melhor Atriz.
A esta altura, é impossível negar que o drama de Salles passou de uma promessa para uma realidade inebriante na temporada de prémios. Claro que ainda há muito pela frente até 2 de março, e a falta de algumas nomeações e a disputa acirrada com Demi Moore são obstáculos a serem superados. Mas a grande pergunta que fica é: até onde mais esta história nos poderá levar?