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Charlot & Eu: #7 (Diogo Nóbrega)

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“Uma pequena silhueta patética e mal vestida, um chapéu de coco amolgado, umas calças largas, um botão de bigode, uns sapatos enormes e uma bengala pretensiosa”. Falo de Charlot, o vagabundo, uma complexa personagem que é parte patife, parte figura patética, parte herói, parte romântico, parte crítico social, parte cavalheiro, parte poeta, parte sonhador. Este, é o meu Charlot!

Autor do texto: Diogo Nóbrega, realizador, estudante de cinema

“Qual a minha relação com o autor?

“A relação com o autor é admirativa. Não é muito complicado. Queremos pintar um quadro, fazer um filme, porque vimos certos quadros, certos filmes. O Chaplin é isso, essa revelação, esse detalhe. Uma ninharia moral, saturada, em que me alegro/alargo como posso, como sei.

“Coisas soltas, poucas, dispersas, emprestadas, assim, o que é possível dizer:

– “O espaço. Coisa pequena, uma ópera íntima como uma cova de leões, simulacro de uma certa condição animal, onde possa caber a medida do corpo e os necessários bocados de aparência. Procedemos à força de aridez e sobriedade, penúria prescrita, sem expedientes, pósteres de referência. Sem etcedário. O cinema pode ser divertido, mas não é nenhuma brincadeira.

– “O corpo. Isolado na sua condição de fragmento impõe-se ultrapassar o verbal, desclassificando-o. Resistem a figura e o lugar no movimento da criação. A aventura sem as palavras, doravante. Demasiada figura, demasiado lugar. Umas mãos, por hipótese. Últimas mãos sobre o prato a mesa de alguma hora algum lugar. Isto bem perto da desértica paisagem que cada um procura, quando procura. Sem demónio, como na infância.

– “Eu, homem, é pouco. E é imenso. Actor, arqueólogo, turista, observador dos detritos e dos climas, sinais discretos na paisagem, restos do que foi o melhor, do que valeu a pena. O que é fundamental é narrar; dizer que há vida, que a morte lhe confere sentido. Contra o nada, maior e óbvio, comparar sem reservas, ininterruptamente, comparar sem culpas. Uma mão na caneta vale uma mão na charrua. E o homem prospera num real que flui flui. Deixemos esboçada a geração utópica do sóbrio, do estático insinuado; e falemos, então, de outra coisa, falemos do humano. Se formos bem sucedidos é uma abertura, é um formar imagem. E o cobrador sabe sempre/ quando o silêncio tem pó/ e é perfeito.

Obrigado, Diogo Nóbrega, pela colaboração.

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