Elas no Cinema pelo Mundo #8 - Brasil, Bulgária, Colômbia

Todas as sextas-feiras, nós, da agenda Elas no Cinema em Lisboa, publicamos aqui no Cinema Sétima Arte sugestões de filmes realizados por mulheres de diferentes partes do mundo.

A ideia dessa iniciativa, inspirada pelo desafio #52FilmsbyWomen, é promover o trabalho de realizadoras de vários países ao longo do ano todo. Embora nem sempre seja possível, buscaremos priorizar filmes que estão disponíveis em plataformas de streaming ou nas salas de cinema.

BRASIL

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“Que Bom Te Ver Viva”
[1989]
Realização: Lúcia Murat
Disponível na MUBI (apenas no Brasil)

Murat é uma das mais importantes cineastas brasileiras e abordou de diversas formas o período da ditadura militar brasileira (1964-1985) em vários dos 17 filmes que dirigiu. Lançado quatro anos após a redemocratização, “Que Bom Te Ver Viva” foi o primeiro desses filmes. Nele, a realizadora parte da premissa “como sobrevivemos à ditadura?” para contar as histórias de ativistas que, assim como ela própria, foram presas e torturadas. São oito mulheres que topam dar os seus relatos e mostrar um pouco da sua vida pessoal: Maria do Carmo Brito, Estrela Bohadana, Maria Luiza G. Rosa (Pupi), Rosalinda Santa Cruz (Rosa), Criméia de Almeida, Regina Toscano, Jessie Jane – cuja história também foi retratada na série “Jessie & Colombo”, da Globoplay – e uma mulher que prefere ficar anônima. Esses depoimentos se misturam a cenas ficcionais da actriz Irene Ravache em que ela interpreta uma espécie de alter-ego de Murat.

Dica bônus: recomendo muito todos os filmes desta lista de 20 filmes dirigidos por mulheres sobre a ditadura organizada pelo Mulher no Cinema. Ditadura nunca mais!

BULGÁRIA

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“Éramos Jovens”
[A byahme mladi, 1961]
Realização: Binka Zhelyazkova

É muito difícil encontrar um filme da Binka Zhelyazkova para ver. Felizmente a Cinemateca Portuguesa exibiu, em Outubro de 2024, “Éramos Jovens”, obra de estreia da realizadora que é considerada a primeira mulher búlgara a dirigir uma longa-metragem e uma das poucas mulheres em todo o mundo a dirigir longas na década de 1950. Ao fazer um cinema político, vários dos seus filmes tiveram a distribuição proibida. “Éramos Jovens” é baseado na sua própria história de amor ao lado do marido (o guionista Hristo Ganev) e se passa na Sófia, capital do país, sob ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Os jovens Veska (Rumyana Karabelova) e Dimo (Dimitar Buynozov) vão se apaixonando em meio a dias de luta e de clandestinidade. Veska é daquelas personagens cinematográficas inesquecíveis e representa bem o tipo de protagonista vivendo sob circunstâncias extremas que a realizadora também retrataria anos depois no filme “The Last Word” (“Poslednata duma”), de 1973. Zhelyazkova morreu em 2011. Recomendo a leitura deste artigo (em inglês) que fala mais de seu pioneirismo e de sua árdua trajetória.

COLÔMBIA

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“Pássaros de Verão”
[Pájaros de Verano, 2018]
Realização: Cristina Gallego e Ciro Guerra
Disponível na Filmin

É uma pena que esse seja o único filme realizado até ao momento pela colombiana Cristina Gallego, que segue trabalhando no cinema mais como produtora. Aliás, ainda são poucos os filmes realizados por mulheres colombianas que chegam ao circuito comercial (principalmente aqui na Europa). “Pássaros de Verão”, que foi exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes em 2018, narra a destruição de um clã wayúu de Guajira, região ao norte da Colômbia, envolvido na criação do narcotráfico no país no final dos anos 1960, muito antes de Pablo Escobar e dos cartéis de cocaína. O jovem Rapayet (José Acosta) se envolve com a produção e venda de marijuana para os Estados Unidos, quando a planta ainda era legalizada, para pagar o dote exigido para se casar com a garota Zaida (Natalia Reyes). Entretanto, quando a maconha é criminalizada nos anos 1970, a vida dos indígenas sofre imenso impacto e tudo passa a ser muito violento e ocidentalizado. Falei mais deste filme aqui.