Lembrar Carlos Melo Ferreira

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Um ano após a morte de Carlos Melo Ferreira, professor e crítico de cinema, o Cinema Sétima Arte lembra aquele foi um dos grandes estudiosos de cinema em Portugal, através dos seus livros.

Carlos Melo Ferreira faleceu a 27 de julho de 2019, deixando para trás um legado incontornável de textos, de estudos sobre a(s) história(s) do cinema e de críticas a filmes. O seu trabalho é único e marcou os estudos de cinema em Portugal.

Membro da Associação de Investigadores da Imagem em Movimento (AIM), Melo Ferreira publicou “O Cinema de Alfred Hitchcock” (1985), “Truffaut e o Cinema” (1991), “As Poéticas do Cinema” (2004) e “Cinema – Uma Arte Impura” (2011), “Cruzamentos – Estudos de Arte, Cinema e Arquitectura” (2007), “Corte e Abertura” (2015), “Cinema Clássico Americano: Géneros e Génio em Howard Hawks” (2018) e “Pedro Costa” (o seu último livro publicado).

Mesmo reformado da carreira de professor, afastado da Academia, continuou sempre a escrever e adaptou-se ao mundo digital com os seus blogues. O seu blogue Some like it hot (criado em 2017) ficou parado no tempo, tendo a sua última publicação sido dedicada ao músico brasileiro João Gilberto, que a 6 de julho de 2019 (no mesmo mês que Melo Ferreira).

Sugerimos três das suas obras que são representativas e essenciais para compreender Melo Ferreira e o seu cinema predilecto: o estudo do próprio cinema, o cinema clássico americano e o cinema de Pedro Costa.

Sugerimos ainda a leitura dos seus textos nos seus blogues: Some like it cool e Some like it hot , também os textos que publicou enquanto colaborou com o Cinema Sétima Arte aqui e ainda uma entrevista que lhe fizemos em 2019 aqui.

O professor apoiou o Cinema Sétima Arte quase desde o início da sua criação e chegou a colaborar nos últimos anos da sua vida. É pois necessário lembrar Carlos Melo Ferreira através das suas palavras, do seu olhar que fixou a imagem em movimento.

Pedro Costa (2018) – Edições Afrontamento

Neste livro o autor tenta estar à altura do cineasta que nos seus filmes procura estar à altura dos personagens que filma e do que lhes acontece, primeiro em filmes de ficção, depois em filmes que se movem na fronteira entre o documentário e a ficção. Personagens que por sua vez querem estar à altura do que a eles lhes acontece. Portanto este é um livro que trata da obra de Pedro Costa de forma sistemática e completa, contextualizando-a na história do cinema e no cinema contemporâneo. É por isso uma palavra actual sobre um dos mais importantes cineastas mundiais dos nossos dias, encarado de uma multiplicidade de perspectivas – fílmica, ética, política, antropológica e artística -, tentando perceber como os seus filmes nos dizem o que dizem e o que ele acrescentou de novo e original ao cinema o livro beneficia muito das imagens cedidas por Pedro Costa, que implicam uma outra leitura sua. E aqui estar à altura de é encarado como merecer o que nos acontece pela atitude perante ele tomada. a ética dos filmes do cineasta e deste livro é essa.

Cinema Clássico Americano: Géneros e génio em Howard Hawks (2018) – Edições 70

Este livro revela o modo como o cinema de Howard Hawks ganha projeção crítica nos anos cinquenta do século passado no contexto do cinema clássico americano abrangendo cinco décadas. Nele reflete-se sobre a influência que o realizador exerceu e exerce sobre o cinema americano posterior até à atualidade, motivo pelo qual ao falar deste nome incontornável falamos também de uma cinematografia importante, que não cessa de se renovar mesmo se continuando a apresentar-se aos olhos dos espectadores de todo o mundo como hegemónica. O contexto do cinema clássico apresenta-se também na sua relação com a pintura do século XIX, alguma cultura mais pop e sobretudo o meio literário ao qual o cinema, em particular o cinema clássico americano, foi buscar a sua inspiração incontornável: a geração perdida.

Cinema – Uma Arte Impura (2011) – Edições Afrontamento

Um estudo do cinema a partir de questões visuais, sonoras, audiovisuais e narrativas, que estabelece uma cartografia da História do Cinema, das suas épocas, principais correntes e movimentos, mas também de alguns dos seus principais cineastas e filmes. Ao recapitular-se a história, pode-se entender e situar melhor a actualidade. Analisa-se a cor (o seu uso e o significado que ela pode ter), os géneros (das origens até à actualidade), a palavra (como forma de significação específica no cinema), mas também a figura humana no cinema – quando interpretada por actores e não actores no filme de ficção, no documentário e para além deles –, as relações entre a imagem do cinema e a realidade. Define-se um quadro histórico e conceptual do cinema e da sua linguagem, com o que se assinalam percursos históricos muito recomendáveis da arte cinematográfica até à actualidade, mas também se referem as relações dela com outras artes, outras formas de expressão e de comunicação. Através da rede de filmes, cineastas e conceitos assim construída, propõem-se ao leitor múltiplas entradas que lhe permitem descobrir e construir as suas próprias ligações no cinema e além dele, e assim pensar uma linguagem e uma arte, mas também um espectáculo e uma indústria, que desde o início não tem cessado de o considerar como espectador.

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