Licorice Pizza estreou a 30 de Dezembro de 2021 em Portugal mas podemos puxá-lo para 2022 até porque em 2021 houve um rei, The Card Counter, e este Licorice Pizza vai ser difícil de ser ultrapassado na categoria do “muito bom este indiezinho fofinho”.
O realizador Paul Thomas Anderson, responsável pelos êxitos Magnolia ou There will be blood-Haverá sangue, tem já no seu percurso uma notável experiência na realização de vídeos musicais para bandas indie como a das irmãs Haim, Radiohead, Joanna Newsom ou Fiona Apple. Foi através desta ligação à música que chegou até Alana Haim, uma das irmãs que constituem a banda Haim, e que não é nada menos que a protagonista deste Licorice Pizza. Esta Alana (nome também da personagem), não sendo a mais popular das irmãs, cai na perfeição no papel de miúda simples, com a coolness despretensiosa de uma jovem adulta ao mesmo tempo perdida na sua cidade natal. Percebemos que pelos seus 25 anos desespera por uma liberdade fora do Vale de São Francisco algures na década de 70. Ao cruzar-se com Gary Valentine de apenas 15 anos, interpretado pelo também estreante Cooper Hoffman (filho do falecido actor e colabdorador habitual de PTA, Philip Seymour Hoffman), a sua vida não terá mais o tédio habitual.
Numa altura em que se faziam retratos para um livro de ponto (ainda existe?), a lábia de Gary para chegar até Alana é infalível e de tão desconcertante deixa a jovem incrédula, mas ao mesmo tempo curiosa pela confiança do miúdo, aceitando o seu convite para um encontro. Não querendo contar muito mais e no meio de tantas peripécias que acontecem (um Sean Penn, um Bradley Cooper, um incrível Tom Waits e um dos irmãos Safdie, Benny Safdie estão também nesta história como actores), é um filme sobre a eterna adolescência. Uma homenagem do realizador ao seu passado, as suas vivências e o Verão que não queremos que acabe. Ao mesmo tempo o crescer depressa, amadurecer e a responsabilização pelos nossos actos não latentes e em como nem sempre é possível sermos ingénuos é um passo para a vida adulta, para o arrependimento e para até onde estamos dispostos a ir para termos sucesso.
Há durante a história sempre uma certa admiração dos mais novos pelas personagens mais velhas e essa dinâmica também gera os momentos mais hilariantes do filme. Alana embarca nos esquemas de Gary, no seu empreendedorismo e no seu romantismo, o que acaba por ser encantador para o espectador. Não é uma tortura para quem vê, é um desejo de que a nossa adolescência pudesse ser feliz e libertadora se assim não foi, ou o que invejamos não ter vivido esta época desta forma. Uma rapariga com um nariz de judia apostando tudo num jovem rapaz que vai perdendo popularidade, mas que já não consegue largar. Tudo parece atónito com este romance, e no início e no meio de tanta ironia acabamos a concordar com estes jovens embriagados no amor ao som de Life on Mars? de David Bowie.