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“Sinners” – o resultado brilhante da ambição

“Sinners” é o novo filme de Ryan Coogler que nos transporta para os anos 30 dos Estados Unidos. Pela primeira vez, o realizador que já conta com duas nomeações aos prémios da Academia, procura um equilíbrio entre o terror e o western.
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“Sinners” é o novo filme de Ryan Coogler (realizador de “Fruitvale Station“, “Creed” e “Black Panther“) que nos transporta para os anos 30 dos Estados Unidos quando dois irmãos gémeos decidem regressar à sua cidade natal para recomeçar a sua vida, sendo confrontados com os desafios de uma comunidade que já não é a mesma. Pela primeira vez, o realizador que já conta com duas nomeações aos prémios da Academia, procura um equilíbrio entre o terror e o western – atingindo-o de forma brilhante!

Esta quinta longa-metragem do realizador americano é certamente a mais ambiciosa da sua carreira tendo, pela primeira vez, se aventurado na gravação em diferentes formatos, destacando-se o IMAX em 70mm. Para tal, Coogler contou com o aconselhamento de Christopher Nolan, já experiente neste tipo de abordagem (o seu nome é o primeiro que aparece nos agradecimentos do filme, durante os créditos finais).

No entanto, a ambição não se limitou aos formatos de gravação do filme, mas também às performances de todo o elenco, sendo impossível não destacar o (duplo) desempenho de Michael B. Jordan, que protagoniza esta narrativa e dá vida aos dois irmãos gémeos, com a credibilidade suficiente que permite ao público distingui-los. Também o veterano Delroy Lindo domina o ecrã com a sua presença magnética, sendo ele o responsável por grande parte dos momentos de humor que aliviam a tensão constante do segundo ato. Destacam-se ainda Hailee Steinfeld e Wunmi Mosaku, em papéis completamente diferentes daqueles a que já nos habituaram.

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O realizador americano consegue assim orquestrar duas horas e vinte minutos de tensão, diversão e terror que acabam por ser um banquete visual para o espectador. Para tal, a cinematografia de Autumn Durald Arkapaw com grande foco nas luzes de cores quentes que irrompem no escuro contribui, em grande parte, para a dramatização dos eventos daquela noite, elevando a tensão de cada cena. Também a banda sonora original, assinada por Ludwig Göransson, através de uma fusão de gospel, blues e sons industriais, cimenta-o como um dos melhores compositores da atualidade, sendo complementado de forma brilhante por um trabalho de mistura de som absolutamente imersivo que proporciona ao público aquela que é a melhor experiência de cinema dos primeiros meses de 2025. O som assume, assim, um papel bastante relevante na narrativa, atingindo o seu máximo potencial naquela que é a sequência mais marcante da longa-metragem — um plano-sequência onde Coogler faz uma retrospetiva de toda a história da música, mostrando diversos elementos desta arte, do passado e do futuro. O momento em crescendo musical acaba por ser um clímax emocional e visual da obra, marcando a memória de qualquer espectador, relembrando-nos que a música e o cinema são talvez as artes que mais se complementam.

Coogler quis ainda prestar homenagem tanto aos westerns épicos como aos filmes de terror gótico, havendo algumas referências a obras como There Will Be Blood e Let the Right One In. No entanto, Sinners dá-nos uma perspetiva revigorada do género, evitando clichés, especialmente na abordagem dos vampiros, associando-os a questões raciais, religiosas e até de identidade. O filme, que certamente não agradará a todos os gostos, eleva Ryan Coogler a outro patamar, afirmando-o como um dos realizadores mais visionários da atualidade, mostrando aqui que consegue facilmente conjugar crítica social, tensão narrativa e beleza estética, retirando sempre boas performances dos seus elencos. O filme respira ambição e resta-nos esperar que o público também ambicione vê-lo.

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“Sinners” – o resultado brilhante da ambição
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