A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que, de alguma forma, merecem protagonismo pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade e dos benefícios de os visionar.
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Beautiful Boy (2010) – O outro lado da tragédia
“Beautiful Boy” foi o último filme realizado por Shawn Ku. Original e reflexivo, trata-se de um drama onde os atores principais Maria Bello e Michael Sheen interpretam os pais de um autor de um tiroteio na faculdade dele e que acaba por se suicidar.
Sammy, interpretado por Kyle Gallner, é um adolescente, como tantos outros, que frequenta o primeiro ano da faculdade. Um dia tudo muda quando resolve assassinar alunos e professores.
Engana-se quem pensa que este filme é sobre o crime nas escolas que, infelizmente, se torna tão comum nos EUA. “Em Beautiful Boy” a atenção recai sobre os esquecidos: a família do jovem. Demonstrando o massacre a que os pais de Sammy são sujeitos, principalmente por parte da comunicação social, o realizador obriga-nos a questionar a nossa atitude nestas situações.
A partir daqui, os protagonistas passam a ser Bill (Michael Sheen) e Kate (Maria Bello), que lutam por compreender o ocorrido e arranjar explicações para o comportamento do filho, ao mesmo tempo que são atacados pelos pais das vítimas e pela comunicação social.
O luto, a tristeza, o julgamento constante, a procura de respostas e de um culpado que tendem a imperar nestas situações vão surgindo, mas a verdade é que nunca existe uma explicação suficiente.
Seria de esperar que um filme desta natureza fosse por si só dramático, mas apenas no seu decorrer conseguimos compreender a sua intensidade. Isto serve, essencialmente, para que o espectador se envolva com a temática, desenvolvendo empatia com as personagens, colocando-se no seu papel e questionando a posição que teria se fosse confrontado com notícias semelhantes.
Sem ninguém que possam odiar, Bill e Kate tentam aos poucos regressar à vida normal, tentando preencher o vazio da morte do filho e da falta de respostas para o seu comportamento, acabando por ser confrontados com a realidade. Este acaba por ser também o aspeto menos positivo do filme, que dá a sensação de ser cíclico e de não se desenvolver, mas o facto é que seria contraditório dar um rumo ao filme, quando a vida das suas personagens perderam o seu.