Livro Negro (2006) – Resistência Feminina: Sexy e Inteligente
Ainda no rescaldo das comemorações dos 70 anos sobre o fim da II Guerra e do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, porque este é um tema que não deve ser NUNCA esquecido, hoje a minha recomendação é Livro Negro (“Zwartboek”), um filme de época, holandês, do realizador Paul Verhoeven, conhecido pela realização de “Instinto Fatal” e “Robocop”.
O filme decorre no ano de 1944, na Holanda ocupada pelos nazis. Uma bela e jovem cantora judia junta-se à resistência para se vingar da morte dos seus familiares.
Rachel Stein (Carice van Houten) que vivia num esconderijo em casa de uma família cristã vê a sua vida mudar drasticamente quando este é destruído por uma bomba. Rachel escolhe fugir com a família e um grupo de judeus em direção à Bélgica. No entanto, a tentativa frustrada culmina no assassinato de todo o grupo, à exceção da jovem, numa emboscada dos soldados alemães.
Rachel junta-se então aos rebeldes liderados por Gerben Kuipers (Derek de Lint) e Hans Akkermans (Thom Hoffman) que a convencem a transformar-se em Ellis de Vries e seduzir Ludwig Müntze (Sebastian Koch), um comandante da Gestapo.
Bem sucedida na sua missão Ellis começa a trabalhar para os alemães e a participar nas festas do exército nazi. Numa delas encontra Günther Franken, o grande responsável pela morte da sua família, o que torna a sua luta ainda mais pessoal.
O que distingue este filme de muitos outros sobre a segunda grande guerra? Voltas e reviravoltas. Existem surpresas ao virar de cada cena. Oficiais do exército que na verdade são amáveis e compreensivos, oficiais do exército cruéis e sem escrúpulos, revolucionários traidores e revolucionários amantes da causa. Gerard Soeteman e Paul Verhoeven constroem um argumento repleto de tramas, que não se focaliza no discurso moral, mas sim nas características humanas.
Além disso, e algo que apreciei bastante quando vi o filme, é o facto de se manter fiel aos dialetos. Porque na Holanda ocupada não se falava inglês americano, e os nazis diziam muito mais em alemão do que “Heil Hitler”.
A maioria dos atores fala mais do que uma língua e Carice van Houten, agora conhecida pela sua personagem Melisandre em “A Guerra dos Tronos”, cantou ela própria todas as suas músicas, e fala fluentemente quatro línguas durante o filme: hebraico nas cenas em Israel, alemão com soldados nazis, inglês com os soldados do exército do Canadá e holandês durante a maior parte do filme.
O realizador adota uma filmografia diferente da hollywoodiana, preservando o seu modo peculiar de mostrar o sexo e a violência em imagens graficamente fortes. Além disso, poucas são as vezes que nesta temática o filme se desenrola em torno de uma heroína mulher.
Verhoeven não é totalmente fiel aos factos históricos e por essa razão o filme contém algumas imprecisões e erros. No entanto, isso é desvalorizado porque ao abandonar a verdade histórica o realizador focaliza-se na procura de realidades escondidas e disfarçadas das relações e razões humanas.
O filme não nos mostra judeus à beira da morte que são ostracizados e violentados pelos cruéis soldados nazis, pelo contrário, existe pouco sofrimento explícito neste filme. É um filme forte e dramático mas que não recorre à emocionalidade. Como se já não sobrassem mais lágrimas para serem derramadas.
Além disso, em determinadas alturas quase nos sentimentos culpados por estarmos a desfrutar deste fantástico thriller que se torna constantemente fonte de entretenimento para o espectador.