“Mas quem é a Sofia? E porquê é que interessa o que ela escolhe? A Sofia é uma amante da sétima arte, com formação em psicologia, que nos trará semanalmente uma análise idiossincrática de um filme da sua preferência. Opinião sincera e repleta de curiosidades, acerca de filmes, muitas vezes ignorados pelas luzes da ribalta, mas que de alguma forma merecem protagonismo, pelo interesse do ponto de vista psicológico, da análise do comportamento e da personalidade, e dos benefícios de os visionar. Esperamos que não fique indiferente a esta nova rubrica, e que torne as escolhas da Sofia suas escolhas também!”
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A Face Oculta de Mr. Brooks (2007) – Amigos Amigos Mortes à Parte
“A Face Oculta de Mr. Brooks” (“Mr. Brooks”) é um thriller psicológico realizado por Bruce A. Evans, responsável também pelo seu argumento, juntamente com Raynold Gideon. Com a participação de Kevin Costner, Demi Moore, Dane Cook, William Hurt e Danielle Panabaker nos principais papéis.
O filme conta a história de Earl Brooks (Kevin Costner) um homem de negócios respeitado e acalmado pela sua comunidade em Portland, tendo ganho o prémio de “Homem do Ano”. Contudo este pai e cidadão exemplar é na verdade um serial killer conhecido como o “Assassino da impressão digital”.
Após anos sem matar, seguindo à risca os passos do grupo de ajuda que frequenta, Brooks sente-se novamente compelido ao homicídio por insistência do seu “alter-ego” Marshall (William Hurt), a manifestação dos seus desejos e tentações íntimas e secretas.
No decorrer de um destes novos crimes, Brooks é capturado pela camara fotográfica de Mr. Smith (Dane Cook) que, evidentemente, começa por chantageá-lo, embora pedindo algo bem diferente do habitual.
Atuando no background, a detetive Tracy Atwood (Demi Moore), tenta descobrir quem é o assassino que deixa impressões digitais das vítimas, em sangue, nos locais do crime, enquanto se debate com os desastres da sua vida pessoal.
Do ponto de vista da psicologia, além de ser um filme interessante podemos considerar vários cenários.
Poderíamos a certa altura considerar que Earl sofre do Transtorno Dissociativo da Personalidade, ou dupla personalidade como é comumente conhecido, mas em nenhum momento a personalidade de Marshall “toma conta do corpo” de Brooks realizando as ações por si.
Ao mesmo tempo poderíamos considerar a hipótese de Brooks sofrer de esquizofrenia, no entanto, não considero que exista um corte com a realidade que o justifique. Brooks sabe o que é real e o que não é, e consegue funcionar perfeitamente, não existindo sofrimento psicossocial nesse sentido.
Também o poderíamos considerar um psicopata que sente prazer no sofrimento dos outros e em matar. Mas isto nem sempre é verdade porque Brooks sente empatia e ama a sua família, principalmente a sua filha.
Assim, ficamos sem saber o “que tem” Mr. Brooks, mas pela personificação de Marshall podemos considerar que seja uma espécie de amigo imaginário, dos que dão apoio, permitem trocar ideias, apoiam e aceitam, tudo o que é preciso num bom amigo imaginário, com o desprazer de que este o impele a cometer atos criminosos.
Misterioso, repleto de reviravoltas, que desperta curiosidade do espectador desde logo por vermos Costner e Cook a encarnar personagens que fogem ao seu padrão habitual, “A Face Oculta de Mr. Brooks” é um bom filme para ver com todos os seus amigos, até os imaginários.