Em 2012 estrearam nas nossas salas de cinema dois filmes mudos e a preto e branco, “O Artista” (2011) do francês Michel Hazanavicius e o português “Tabu” (2012) de Miguel Gomes. São dois exemplos de um cinema moderno que tenta adotar e homenagear os filmes mudos, num registo clássico, e cada vez mais têm surgido exemplos assim. De um lado temos uma Hollywood estagnada, bloqueada de ideias, sem qualquer criatividade, que tem vindo fazer remakes de tudo e mais alguma coisa na última década. Do outro lado temos o cinema europeu, que de forma criativa e inteligente conta histórias novas, mesmo que adotando uma forma clássica e contando histórias de contos de fada, como o de “Branca de Neve”. Este conto teve aliás direito a duas produções hollywoodescas em 2012 que de original tinham muito pouco. “Blancanieves” escrito e realizado pelo espanhol Pablo Berger, que conquistou os prémios Goya, é um caso feliz dessa homenagem ao drama clássico e de uma boa adaptação do conto.
Esta é uma adaptação livre, num estilo gótico, do famoso conto de fadas dos irmãos Grimm, passada na Espanha dos anos 20. Um forte melodrama que, por vezes com sentido de humor, nos transmite o sentimento do dever e da tradição (as touradas). Tradição essa pela qual a Espanha é em grande parte conhecida e que nos últimos anos tem tentado esquece-la, mas infelizmente sem grande sucesso. A narrativa clássica peca por vezes por ser monótona e demasiado previsível. Como se o seu público alvo fosse os mais novos, que precisam que lhes contam tudo tintin por tintin. Mas talvez seja essa a ideia do realizador, em tom satírico dizer-nos, aos espectadores, que devemos regressar para o romantismo do mundo mágico dos contos de fadas.
“Blancanieves” pode não ser excelente no argumento, mas a nível técnico está lá perto. Visualmente é encantador, com magníficos jogos de luz e sombra, sendo Kiko de la Rica o responsável pela direção de fotografia. É um filme ritmado pelos sons tradicionais flamencos, que mesmo mantendo características típicas de um cinema mudo, nota-se uma modernidade na edição e na realização. Contudo, seria desnecessário a sobreposição de imagens e flashbacks em alguns momentos, pois o espectador já sabe muito bem o que irá acontecer.
É uma experiência que deve voltar a ser repetida, seja pela distinta estética do filme ou bons desempenhos dos atores, como é o caso da nossa protagonista Encarna ou Branca de Neve (interpretada por Maribel Verdú) que nos imprime um sorriso tão belo como o filme.
Realização: Pablo Berger
Argumento: Pablo Berger
Elenco: Maribel Verdú, Emilio Gavira, Daniel Giménez Cacho
Espanha/2012 – Drama
Sinopse: Adaptação livre, de carácter gótico, do popular conto dos irmãos Grimm, passada na Espanha dos anos 20. Branca de Neve é Carmen, uma bela jovem com uma infância atormentada pela sua terrível madrasta Encarna. Fugindo do passado, Carmen empreenderá uma apaixonante viagem acompanhada por novos amigos: uma troupe de Anões Toureiros.