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Elas no Cinema pelo Mundo #9 – França, Venezuela, Geórgia

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Todas as sextas-feiras de 2025, nós do Elas no Cinema em Lisboa, estaremos aqui no Cinema Sétima Arte para indicar filmes realizados por mulheres de diferentes partes do mundo. Buscaremos, sempre que possível, trazer filmes que estejam disponíveis em streamings ou nas salas de cinema em Portugal.

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Para esta semana, escolhi três filmes que estão ligados por suas cenas de dança. Não são musicais (nada contra, tenho até amigos que gostam), mas sim filmes que dão espaço na narrativa para que um corpo se movimente ao som de uma música. Eu amo quando isso acontece, principalmente quando não estou à espera. Sinto que a narrativa potencializa por causa da suspensão que a dança promove. Quando um corpo se movimenta ao som de uma música, é como se o meu entorno parasse de respirar para entrar numa imersão completa por tudo que a cena constrói.

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FRANÇA

Bom trabalho 1999 1 4

“Bom Trabalho”
[Beau Travail, 1999]
Realização: Claire Denis
Disponível na Mubi 

“Bom Trabalho”, de Claire Denis, é um dos filmes que melhor explora o corpo em movimento – e aqui, é especialmente o corpo masculino. O filme conta a história de um pelotão da Legião Estrangeira do Exército Francês, instalado no Golfo de Djibouti, num período em que o projeto colonial está obsoleto e a presença dos soldados é insignificante. A masculinidade estrita, trabalhada rigorosamente pela disciplina física e moral promovida por um sargento, é tensionada com a chegada de um novo recruta. As diversas cenas do exército treinando como se fossem ensaios ou aquecimentos de uma coreografia homoerótica brilham com a câmara de Agnès Godard ao explorar os corpos e as obsessões pelo desejo masculino e seus códigos. Mas esses ensaios ganham um espetáculo próprio no fim do filme, com uma extravasante cena de dança que causa um “corpo-circuito”, como diz Bárbara Janicas. No ano em que “Jeanne Dielman”, de Chantal Akerman, ganhou o primeiro lugar na célebre lista de melhores filmes de todos os tempos da Sight and Sound, “Bom Trabalho” ficou com o sétimo lugar, fazendo dos dois filmes os únicos realizados por mulheres a ocuparem o top 10.

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VENEZUELA

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“Cabelo Rebelde”
[Pelo Malo, 2013]
Realização: Mariana Rondón
Disponível na Filmin

Em “Cabelo Rebelde”, Júnior, um menino de nove anos que vive na periferia de Caracas, na Venezuela, precisa tirar uma fotografia para a escola e tem uma ideia clara de como a quer: ele com os cabelos lisos usando uma roupa de cantor. Porém, a sua mãe não apenas rechaça a ideia por associá-la à homossexualidade, como passa a desprezar o filho cada vez com mais intensidade. É com a avó, portanto, que Júnior consegue soltar-se e movimentar o seu corpo sem o julgamento constante da mãe. Sem romantizar ou abominar, o filme aborda a maternidade de forma complexa com uma mãe que quer voltar a trabalhar como polícia, tem um bebé pequeno para cuidar, e acredita que precisa ensinar a masculinidade ao filho a qualquer custo. Com “Cabelo Rebelde”, a realizadora Mariana Rondón cria um cenário ambivalente em que o afeto e o desprezo convivem nos mais simples gestos do quotidiano. É um filme difícil de assistir, mas ainda assim encontra brechas para que o mundo lúdico e criativo do menino se manifeste.

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GEÓRGIA

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“In Bloom”
[2013]
Realização: Nana Ekvtimishvili e Simon Groß

Situado nos anos 1990, em Tbilisi, na Geórgia, o filme explora o período de amadurecimento das amigas Eka e Natia e as consequências de ignorarem os costumes culturais impostos às mulheres. “In Bloom” é um desses filmes de que me lembro pouco da história, mas de que nunca me esqueci de uma cena: a dança de Eka na festa de casamento da amiga. A cena filmada em plano sequência, do ponto de vista de alguém que está na roda; os braços esticados com as mãos levantadas de Eka a imporem limite; o movimento dela dentro do círculo que obriga os homens a lhe darem mais espaço; a graça dos gestos em contraste com o rosto sério de quem está muito concentrada; e a celebração das amigas, como se Eka tivesse conquistado um prémio. Se o filme já não fosse todo ele excelente, ainda assim valeria ser assistido só por essa cena. O filme realizado por Nana Ekvtimishvili e Simon Groß foi selecionado como representante da Geórgia nos Óscares de 2014.

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Acompanhem as nossas recomendações semanais:
Elas no Cinema pelo Mundo #1 – Palestina, Chile, Argentina
Elas no Cinema pelo Mundo #2 – Afeganistão, África do Sul, Albânia
Elas no Cinema pelo Mundo #3 – Canadá, Grécia, Peru
Elas no Cinema pelo Mundo #4 – Alemanha, Angola, Arábia Saudita
Elas no Cinema pelo Mundo #5 – México, Nova Zelândia, Irão
Elas no Cinema pelo Mundo #6 – Áustria, Bangladesh, Bélgica
Elas no Cinema pelo Mundo #7 – Inglaterra, Itália, Estados Unidos
Elas no Cinema pelo Mundo #8 – Brasil, Bulgária, Colômbia