O realizador francês Patrice Leconte (“Rua dos prazeres” e “10 Dias para Encontrar um Melhor Amigo”) estreia-se na animação com “A Loja dos Suicídios”. Baseado na novela homónima escrita, em 2007, pelo francês Jean Teulé, este é um filme de animação irreverente e atual para a Europa de hoje.
O trailer do filme convida o espectador para algo louco e diferente. Numa cidade em que a vida se tornou tão triste que as pessoas já não têm gosto em viver, há uma família que encontra nisso uma oportunidade de negócio, abrindo uma loja dos suicídios. Nesta loja, onde o lema é “ajudá-lo a morrer é a nossa felicidade”, é disponibilizado todo o material para por fim à própria vida. Tudo corre como esperado até nascer Alen, o terceiro filho do casal Tuvache, que nunca ri. Alen é uma criança que ri, contaminando, com as suas gargalhadas e energia positiva, um mundo absolutamente avesso à felicidade. Este sentimento positivo leva a que alguns clientes da loja comecem a evitar suicidarem-se, ao dar-lhes motivos para olharem o mundo de uma outra maneira.
Numa Europa onde a crise económica predomina e onde ninguém consegue já rir, é natural que a taxa de suicídios aumente de ano para ano. “Os franceses não riem mais” era o que dizia num jornal. De facto, os franceses, os gregos, os italianos, os espanhóis e os portugueses hoje não riem mais, ou pelo menos não riem tanto. A melancolia, a tristeza e o desespero dominaram os europeus.
Nesta cidade é proibido por lei as pessoas suicidarem-se em público, pelo que a família Tuvache, que nunca se ri, aproveita-se do desespero dos outros para ganharem dinheiro. Contudo, a morte é algo que a própria família não consegue lidar muito bem, quando assistem a suicídios de alguns clientes. Com o tempo, o desespero em querer morrer conquistará também alguns membros da família, pois não conseguem lidar mais com todos os problemas da vida. Há no entanto uma criança, Alen, que tenta transmitir às pessoas o prazer da vida e da felicidade, em particular às crianças da cidade, pois elas representam o futuro e o mundo lhes pertence. “De que adianta estarmos vivos se só pensamos no suicídio?” cantava Alen no autocarro. Apesar de por vezes o filme parecer pessimista, tem também momentos muito divertidos.
“A Loja dos Suicídios” não é propriamente um filme aconselhável aos mais novos, quer pela própria temática aqui tratada, quer pela linguagem de algumas personagens. O humor aqui usado é bastante negro e arriscado para o público mais jovem. O tema não é, no entanto, bem explorado aqui. Muito menos as razões apresentadas para todas aquelas personagens serem felizes. No final, a vitória da ‘vida’ sobre a ‘morte’ foi bastante fácil. A resolução encontrada para a intriga foi deveras simples e banal. Podia ter-se ido mais longe no conceito da morte e da vida. Daí o argumento ser medíocre e o filme peca muito com isso. O que é pena, pois o desenho dos cenários e das personagens e os números musicais possuem um interessante estilo e um humor negro muito francês.
O fraco argumento e a abordagem que o realizador adotou não conseguem encontrar um equilíbrio, tornando o filme demasiado infantil para os adultos e macabro para as crianças. “A Loja dos Suicídios” é ainda assim um filme interessante, macabro e divertido.
Realização: Patrice Leconte
Argumento: Patrice Leconte, Jean Teulé
Elenco: Bernard Alane, Isabelle Spade, Kacey Mottet Klein
França/2012 – Animação
Sinopse: Imagine uma cidade em que as pessoas já não riem, de tal forma que a loja que mais floresce é a que vende venenos e cordas para enforcar. Mas a dona vai ter um bebé, que é a alegria em pessoa! Na Loja dos Suicídios, o mal já está feito…