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Querido Diário: Edição Cineclubes #12 (Avanca)

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Querido Diario - Edição Cineclubes

“Querido Diário: Edição Cineclubes” é uma rubrica original dos criadores do Cinema 7ª Arte que remete o leitor para uma viagem de vespa por Portugal fora, numa demanda dos cineclubes ainda ativos. De cidade em cidade, iremos conhecer cada cineclube e os seus nativos que se esforçam por partilhar a paixão pela sétima arte.

 

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Esta é a nossa décima segunda paragem e provavelmente a última. É a segunda vez que visitamos o distrito de Aveiro, depois de termos ido ao cineclube de Aveiro. Obrigado por nos receberem aqui em Avanca. Com quase quarenta anos de existência, são um dos cineclubes mais antigos e um dos mais importantes em Portugal.

Cineclube de Avanca_1

Legenda: C7A – Cinema 7ª Arte / CCA – Cineclube de Avanca

C7A: Como nasceu o cineclube de Avanca?

CCA: Nasceu onde só passavam projeccionistas ambulantes. Jovens entre a pintura e a literatura formaram o cineclube como espaço culturalmente dinamizador. Os filmes chegaram à frente e vieram de sítios entre o óbvio e o impensável (Pathé-Baby, embaixadas, quartel militar, entidades religiosas, cineastas, coleccionadores…). Os primeiros anos do Cine-Clube de Avanca (CCA) foram fruto do apoio da Paróquia local e do FAOJ de Aveiro (hoje IPDJ). O CCA nasceu com o peso bem conhecido dos projectores 16mm, sempre itinerante entre novos projectos, entre salas inesperadas, entre todos os públicos que por cá se habituaram a contar com o cinema.

C7A: Com o cineclube de Aveiro praticamente paralisado, sentem uma maior responsabilidade  para com as pessoas da região em oferecer uma solução de cinema, que foge à das salas comerciais?

CCA: Colaborar livremente com o cinema que vai caindo nas telas da região e dar apoio e parceria a todos os que exibem por cá, tem sido um hábito de longa data. Sempre foi assim com Aveiro, como já o foi com os cineclubes de Angeja, Válega e Feira. Deste principio, também muito temos recebido, o que mais justifica esta permanente abertura para vasos comunicantes. Sem vincar responsabilidades, participamos com empenho nas exibições que na região se podem concertar. Interessa-nos o cinema e ele justifica-se quando ocupa ecrãs.

C7A: Criaram um dos festivais de cinema mais importantes do país, o Festival de Cinema de Avanca. Com este projecto vocês estão a incentivar a formação e a produção de cinema português. Falem-nos um pouco do Festival.

CCA: Em 1997, o festival surgiu com imensos filmes e imensos espaços de formação, criando um novo paradigma de festival de cinema para Portugal. 16 anos passaram e reforçou-se a programação com uma selecção de filmes inéditos e agora com um prémio para estreias mundiais. Acontecendo no verão, este evento exibe um cinema muito recente, criando alternativa a tudo o que se viu pelo país até aqui. A intenção é que os que saltam de festival em festival possam assistir a novos filmes, mesmo que tenham chegado de um outro qualquer evento da semana anterior. O AVANCA aposta profundamente na formação e no cinema português. É por isso e com prazer que continuamente se contam os filmes que nasceram nos workshops do festival, que aqui encontraram parcerias, cresceram ou até encontraram financiamento. A animação portuguesa mais premiada de sempre nasceu num workshop do AVANCA, filmes realizados no curto tempo do festival foram exibidos internacionalmente e alguns premiados, desafios dos orientadores dos workshops têm resultado em obras de longa e curta-metragem e entre os inscritos nos workshops estão os nomes de vários dos mais importantes cineastas das últimas gerações do cinema português. O AVANCA é anualmente um espaço informal onde as ideias são motor de um festival onde os filmes são razão entre o ver e o fazer. O cinema e os cineastas portugueses, provavelmente, têm estado a ganhar com isto.

C7A: O público adere com facilidade à vossa programação? Vocês criam uma programação pensada em exclusivo para o público?

CCA: O público é um contingente de variáveis inesperadas e incontroláveis. A programação é sempre uma balança instável entre o que se espera de um público e o desejo de exibir um filme.

C7A: É difícil para vocês criar uma programação de cinema mais independente e com clássicos do cinema, sem que não apareça muito público?

CCA: A diferença de públicos não é significativa. Desde que os filmes sejam bons e enquadrados numa programação que os justifique, o público aparece ou não, de igual modo.

C7A: Costumam passar algum cinema português?

CCA: Sempre. As nossas programações são feitas essencialmente com cinema português. Exibimos longas-metragens mas sobretudo muito do novo cinema de curta-metragem. Portugal está a viver um momento inexplicável e as salas têm que dar disso eco. Parece que a sociedade civil está a “devolver o manguito” que o estado fez ao apoio ao cinema nacional. Cada vez mais surgem interessantes obras produzidas de forma alternativa. A produção de cinema português independente é por isso parte significativa da nossa programação. Curtas de imagem real ou animação, documentários e ficções diversas encaixam nesta disponibilidade e desejo de exibir cinema de Portugal.

C7A: Atualmente, em época de muita crise, onde as pessoas tem menos dinheiro para ir ao cinema, como conseguem gerir as contas do cineclube?

CCA: Como cada espectador o faz… rateando, inventando, procurando que os desejos mais fortes sobrevivam.

C7A: Qual a importância deste cineclube para a cidade de Avanca e qual a importância dos cineclubes hoje na sociedade?

CCA: Avanca aprendeu a viver com o CCA e parece que bem. Participamos na vida comum da terra e tiramos dela muito do que precisamos para prosseguir o nosso caminho. A vida em proximidade é fundamental. Este é, no nosso entender, um dos papéis fulcrais para a integração dos cineclubes no seu espaço geográfico.

C7A: Sentem falta de apoios do estado ou das câmaras municipais para os cineclubes?

CCA: O estado literalmente esquece os cineclubes. O estado parece vendado a uma realidade que ou lhe escapa ou não quer assumir. É invulgarmente despropositado o montante que o estado disponibiliza para os cineclubes de todo o país. Em 2013, o estado vai distribuir 100.000 € por 21 cineclubes, enquanto 150.000 € vão apoiar 6 salas comerciais e outros 150.000 € apoiar 4 entidades do sector. Números exemplificativos da discrepância com que se apoia o cinema em Portugal. Parece óbvio que um estado centralista esquece rapidamente o país. Será esta a razão pela qual nenhuma Lei do Cinema até hoje deixou inscrita a importância de fundos regionais? Vivemos uma aberrante falta de olhar região a região.

C7A: Acham que deveria haver uma maior relação de parceria entre outros cineclubes do país?

CCA: Absolutamente e estamos desde sempre abertos a crescer neste sentido. Como além da actividade cineclubista também produzimos filmes, gostávamos de os exibir em todos os cineclubes do país. Aqui fica uma proposta. Venham outras…

C7A: O cineclube só vive da dedicação e trabalho dos voluntários?

CCA: Vive com os voluntários e com a equipa técnica que diariamente garante a continuidade na produção de novos filmes, coordena novos projectos e eventos, distribui cinema, programa e exibe filmes em parcerias que todos os anos se multiplicam. Entre voluntários e profissionais, a dedicação faz sobrevivência.

C7A: Película ou Digital?

CCA: Filmes…(descobrimos recentemente um cineclube em França que semanalmente exibe cinema clássico a partir de VHS e V2000… exibem…)

C7A: Um dos principais objetivos de um cineclube é o de discutir e refletir sobre cinema. Acha que os cineclubes hoje tem cumprido essa missão, para além da simples exibição?

CCA: Os cineclubes organizam por todo o país manifestações e eventos onde se discute e reflecte cinema. Felizmente, os cineclubes não são os únicos, mas no panorama nacional damos um contributo provavelmente demasiado preponderante. Em Avanca, promovemos desde sempre contactos e debates com os autores e a realização desde 2010 da “AVANCA | CINEMA, Conferência Internacional Cinema – Arte, Tecnologia, Comunicação” tem reforçado esta necessidade de pensar e esgrimir ideias entre filmes.

C7A: Espaço “Mensagem do Presidente”: (este espaço é oferecido ao presidente do cineclube para deixar uma pequena mensagem aos sócios/voluntários/público em geral. É um espaço livre e da inteira responsabilidade do presidente.)

CCA: O cineclubismo é um imenso “road movie” que viaja à boleia das paixões que constroem filmes. Os cineclubistas sentam-se no banco ao lado do autor / condutor e fazem de cada filme uma conversa, um debate, justificando-se que o cinema esteja mais vivo a cada nova história. Parte-se sempre à boleia, sem destino, irresponsavelmente. Mas viver sem “responsabilidade” permite-nos voar como queremos e surfar em aragens sempre novas…Em cada cineclube, a porta só está encostada. É por aí que os filmes se encontram…

 

Cineclube de Avanca_logo Querido Diario - Edição Cineclubes - #12

Próxima paragem: Cineclube de Coimbra

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Uma ideia original de

Cinema 7ª Arte

Texto de

Tiago Resende

Revisão de

Eduardo Magueta

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