25 de Abril

Querido Diário: Edição Cineclubes #15 (Tomar)

Querido Diario Edição Cineclubes 1 Querido Diario Edição Cineclubes 2

Querido Diario - Edição Cineclubes

“Querido Diário: Edição Cineclubes” é uma rubrica original dos criadores do Cinema 7ª Arte que remete o leitor para uma viagem de vespa por Portugal fora, numa demanda dos cineclubes ainda ativos. De cidade em cidade, iremos conhecer cada cineclube e os seus nativos que se esforçam por partilhar a paixão pela sétima arte.

 

A nossa viagem continua, agora em Tomar, conhecida como cidade templária, conta desde 2009 com um cineclube que tem vindo a cumprir o papel de divulgação da arte cinematográfica na região.

Cineclube de Tomar_1

Legenda: C7A – Cinema 7ª Arte / CT – Cineclube de Tomar

C7A: O que motivou a criação de um cineclube na cidade de Tomar? 

CT: Durante muitos anos existiu em Tomar um cinema, o Cine Templários, ligado a uma das distribuidoras do Paulo Branco (penso que na altura era a Medeia), e com uma programação de qualidade. Esse cinema encerrou em Dezembro de 2005. Nos anos seguintes, algumas pessoas que sentiam falta dessa programação decidiram criar um Cineclube. Este foi formalmente criado em Janeiro 2009. O núcleo inicial era formado por professores do Instituto Politécnico de Tomar (IPT), tendo agregado logo de início o gerente do Cine Templários, um “velho” cinéfilo que ainda faz parte da actual Direcção.

Eu era “cliente” assídua do Cine Templários, mas só me integrei no Cineclube alguns meses depois da sua criação.

C7A: Sendo vocês um cineclube muito jovem e numa cidade com cerca de 40 mil habitantes, sentem que os tomarenses aceitaram a vossa iniciativa?

CT: É como perguntar se “os portugueses” gostam de filmes “de qualidade”. Uns gostam, outros não. Além de que não há só tomarenses em Tomar. Por exemplo,  eu sou de Lisboa, e vivo em Tomar desde 1990 por motivos profissionais. O nosso público é constituído por dois grupos etários díspares: meia-idade, antigos frequentadores do Cine Templários, e jovens alunos do IPT (que tem um curso de Video e Cinema Documental, e um curso de Fotografia). Os jovens vão desparecendo à medidda que acabam os cursos (e são substituídos por outros que chegam). Os mais velhos mantêm-se.

C7A: Vocês criam uma programação pensada em exclusivo para o público?

CT: Tentamos que essa programação tenha algum “fio condutor”. Pegamos num filme mais mediático (p ex “O Lobo de Wall Street”) e vamos integrá-lo numa programação à volta do tema “capital”, com filmes menos conhecidos, mas que consideramos interessantes. Nem todos terão o mesmo número de espectadores, mas achamos que a função de um cineclube é também “formar” público.

C7A: É difícil para vocês criar uma programação de cinema mais independente e com clássicos do cinema, sem que não apareça muito público?

CT: Não, antes pelo contrário. Os sócios do Cineclube querem mesmo ver cinema independente e/ou historicamente importantes. Se passarmos um filme “mainstream” se calhar temos mais espectadores nessa sessão, mas são episódicos. Não se farão sócios, nem regressam para sessões com filmes “desconhecidos”.

C7A: Costumam passar algum cinema português?

CT: Sim, com regularidade. A principal razão, sejamos realistas, é porque os apoios concedidos pelo ICA aos cineclubes têm uma cláusula que impóe um quota mínima de filmes portugueses. Mas também há filmes portugueses que passaríamos, mesmo sem quotas.

C7A: Atualmente, em época de muita crise, onde as pessoas tem menos dinheiro para ir ao cinema, como conseguem gerir as contas do cineclube?

CT: Os nossos preços são muito baixos; talvez por isso não tenhamos sentido uma diminuição significativa do número de espectadores. Antes pelo contrário. O número de sócios está a aumentar. Mas não conseguimos sobreviver só com as receitas de bilheteira, e as quotas dos sócios. Contamos com o apoio da Câmara Municipal de Tomar que nos cede o Cine Teatro a custo zero, e um funcionário de apoio à sessão, além de um pequeno subsídio anual. O ICA tem um programa de apoio aos cineclubes (Programa de Apoio à Exibição não Comercial), ao qual nos candidatamos habitualmente, mas que esteve suspenso em 2012, e cujo valor referente a 2013 ainda não foi pago…

Também fazemos sessões com filmes cedidos por algumas entidades como os Institutos Alemão e Francês. Não são filmes recentes, mas são obras interessantes (clássicos, primeiras obras, etc), que alternamos com filmes do mercado, seguindo o princípio do “fio condutor” que referimos acima.

C7A: Qual a importância deste cineclube para a cidade de Tomar e qual a importância dos cineclubes hoje na sociedade?

CT: Neste momento, em Tomar, o Cineclube é um dos locais de encontro de pessoas que se interessam pela cultura. Os cineclubes podem e devem ser, nas cidades do interior, um dos pólos de aglutinação de actividades lúdicas de qualidade.

C7A: Sentem falta de apoios do estado ou das câmaras municipais para os cineclubes?

CT: Penso que esta resposta já foi dada acima.

C7A: Acham que deveria haver uma maior relação de parceria entre outros cineclubes do país, como por exemplo com o de Santarém, visto ser um dos mais antigos e activos cineclubes?

CT: Temos boas relações com o Cineclube de Torres Novas, que tem tido actividade regular e é, também, um dos mais antigos do país (> 50anos). Contudo, neste momento está parado, devido á falta de apoios.

Já fizemos alguns ciclos em conjunto com os outros cineclubes da região (Santarém Torres Novas e Abrantes) (p ex, cinema japonês, em 2010). Mas também nos parece que cada cineclube tem uma “personalidades” própria, que se revela na programação escolhida, e na/s estratégia/s utilizadas para divulgar o cinema.

C7A: O cineclube só vive da dedicação e trabalho dos voluntários?

CT: Sim… Além dos apoios económicos acima referidos.

C7A: Película ou Digital?

CT: Película sempre que possível, ie, se as distribuidoras têm cópias. Digital não é possível, por falta de equipamento (e dinheiro para o aduirir…). DVD na maior parte dos casos, infelizmente.

C7A: Um dos principais objetivos de um cineclube é o de discutir e refletir sobre cinema. Acha que os cineclubes hoje tem cumprido essa missão, para além da simples exibição?

CT: Não sei se “todos” os cineclubes se empenham nessa missão. No nosso caso, preocupamo-nos em produzir uma “folha de sala” que acompanha a sessão. Publicamos no nosso blog (http://cineclubedetomar.wordpress.com/) textos nacionais e/ou internacionais sobre o filme da semana. Quando são filmes “especiais”, que consideramos já fazer parte da história do cinema, convidamos pessoas que os apresentem, e que conversem com os espectadores. Consideramos que a nossa função como cineclube, mais do que apresentar filmes, é “formar” públicos.

C7A: Espaço “Mensagem do Presidente”: (este espaço é oferecido ao presidente do cineclube para deixar uma pequena mensagem aos sócios/voluntários/público em geral. É um espaço livre e da inteira responsabilidade do presidente.)

CT: Um filme pode ser tão importante como um livro ou uma peça de música na formação do indivíduo. Um Cineclube, ao divulgar cinema, pode ser tão importante como uma biblioteca ou um museu.

Cineclube de Tomar_2

Cineclube de Tomar_3

 Próxima paragem: Cineclube de Vila do Conde

Add a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Skip to content