O realizador é a mente criativa central por trás de um filme. É ele quem conduz a jornada do espectador, buscando oferecer uma experiência impactante e, muitas vezes, inesquecível. Sua missão é guiar a audiência para perceber a narrativa por uma perspectiva específica.
Em sintonia com a visão do argumentista, o realizador, qual maestro habilidoso, rege a orquestra da cena, guiando os atores na construção de cada momento, esculpindo a atmosfera para despertar emoções e revelar a alma da história.
Mas, na sétima arte, a realização transcende a simples captura de imagens. Ela é a habilidade de concatenar uma narrativa visual por meio da condução de uma variedade de elementos, desde a cuidadosa seleção dos planos de câmera até a manipulação da iluminação para criar uma atmosfera específica.
Nesse contexto, de forma geral, o realizador assume o leme do processo de montagem, ditando o ritmo, a coesão, a narrativa e a evolução do personagem de acordo com a visão conjunta compartilhada com o produtor e o argumentista.
Certo, e se, além de tudo isso, você tivesse que atuar? Muitos atores já se aventuraram a dirigir a si mesmos, alguns até receberam nomeações aos Óscares.
Considerando isso, apresentamos hoje uma seleção de atores que assumiram essa dupla responsabilidade.
Laurence Olivier
Proclamado como um dos maiores mestres da interpretação de Shakespeare, Olivier assumiu a realização de várias adaptações das obras do dramaturgo, incluindo uma versão inesquecível de “Hamlet” (1948).
Reverenciado como um dos atores mais destacados de sua geração, a representação de Olivier como o Príncipe da Dinamarca perdura como a interpretação definitiva do personagem, continuando a ser venerada até os dias de hoje.
O merecido reconhecimento veio na forma de seu primeiro Óscar de Melhor Ator.
Na ocasião, ele também foi nomeado como Melhor Realizador, uma conquista compreensível ao se observar a poderosa imagem dele segurando a caveira. Essa representação não apenas encapsulou a essência de Olivier no ecrã, mas também deixou uma marca perpétua nas adaptações de Shakespeare em geral.
No entanto, sua primeira incursão nas nomeações aos Óscares ocorreu em 1946, destacando-se por sua atuação e realização em “Henrique V”.
A terceira nomeação ao prémio de Melhor Ator foi conquistada por meio de outra obra icónica de Shakespeare, “Ricardo III” (1957).
Em 1978, foi agraciado com um Óscar especial, honrando não apenas sua carreira como um todo, mas também sua contribuição para as artes cinematográficas.
Kenneth Branagh
Branagh ascendeu na cena hollywoodiana em 1989 com uma adaptação de “Henrique V” de Shakespeare, sendo desde então frequentemente considerado o sucessor natural de Laurence Olivier.
Em sua estreia como realizador nesta produção, ele recebeu nomeações ao Óscar de Melhor Ator e Melhor Realização. O longa foi aclamado pela crítica mundial e até hoje é considerado uma das melhores adaptações cinematográficas de Shakespeare já feitas.
Branagh superou Olivier no número de adaptações cinematográficas de obras clássicas de Shakespeare. Enquanto Olivier realizou apenas três adaptações de Shakespeare, Branagh, nos últimos 30 anos, assumiu a realização de seis longas-metragens inspiradas nas obras do Bardo.
Um fato curioso, é que Kenneth interpretou Olivier no filme “A Minha Semana com Marilyn”, o papel lhe rendeu uma indicação ao Óscar de Melhor Ator Secundário.
Branagh acumula sete nomeações em categorias diversas nos Óscares, incluindo a já citada de Melhor Ator por “Henrique V”, Melhor Realização em “Henrique V” e “Belfast”, Melhor Ator Secundário em “A Minha Semana com Marilyn”, Melhor Curta-Metragem Live-action em “Swan Song”, Melhor Argumento Adaptado em “Hamlet” e Melhor Argumento Original em “Belfast”.
Com esse feito, ele ultrapassa George Clooney, Alfonso Cuarón e Walt Disney, cada um deles tendo recebido seis indicações em categorias diferentes.
Ao todo, Branagh se dirigiu em onze produções.
Warren Beatty
Há quase cinco décadas, Warren Beatty, irmão mais novo da premiada Shirley MacLaine e marido da talentosa Annette Bening, ambas atrizes com trajetórias nos Óscares, figura entre os grandes nomes de Hollywood, acumulando créditos como ator, realizador e produtor.
Beatty alcançou renome ao protagonizar uma sequência de sucessos, como os dramas “A Noite Fez-se para Amar” (1972), de Robert Altman, e “A Última Testemunha” (1974), de Alan J. Pakula, além das comédias “Shampoo” (1975), de Hal Ashby, e “O Céu Pode Esperar” (1978), uma refilmagem do filme de 1941 realizada por Beatty em colaboração com Buck Henry.
Este último, seu maior sucesso de bilheteria dos anos 70, proporcionou-lhe as condições financeiras para a realização de “Reds” em 1981.
“Reds” é um épico que retrata a vida do revolucionário jornalista comunista John Reed durante a Revolução Russa de 1917, culminando na formação da União Soviética.
O filme foi laureado com quatro Óscares, incluindo o prémio de Melhor Realização para Beatty, que também recebeu uma nomeação como Melhor Ator.
Clint Eastwood
A fama de Clint Eastwood, figura multitalentosa que atua como ator, realizador e produtor, consolidou-se através de seus papéis memoráveis em filmes de ação, caracterizados por personagens destemidos, imponentes e anticonvencionais.
Ele ganhou destaque ao encarnar o Pistoleiro sem nome na Trilogia dos Dólares, nos famosos westerns spaghetti realizado por Sergio Leone na década de 1960.
E, para completar, imortalizou seu nome ao encarnar o Inspetor ‘Dirty’ Harry Callahan na série de filmes Dirty Harry, durante as décadas de 1970 e 1980.
Eastwood acumula um total de oito nomeações aos Óscares. Conquistou a estatueta nas categorias de Melhor Realizador e Melhor Filme por “Os Imperdoáveis” e “Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos”.
Suas outras nomeações incluem “Mystic River” e “Cartas de Iwo Jima”.
Além disso, foi nomeado como Melhor Ator por suas performances em “Os Imperdoáveis” e “Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos”.
Ele é a única pessoa a receber duas nomeações, tanto como Melhor Realizador quanto como Melhor Ator, pelo mesmo filme, o que ocorreu em “Os Imperdoáveis” e “Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos”.
Eastwood se dirigiu em 29 produções.
Orson Welles
Welles transcendeu fronteiras artísticas, deixando sua marca no teatro, no rádio e no cinema como um dos maiores nomes do século XX.
O ano de 1941 testemunhou a estreia de Welles no cinema com “Cidadão Kane”, um marco cinematográfico que o consagrou como um dos grandes nomes da sétima arte e que, até hoje, é considerado pela crítica como um dos melhores filmes já realizados.
Em “Cidadão Kane”, Welles tece um retrato magistral da ascensão e queda de um magnata da comunicação norte-americano, inspirado na história do milionário William Randolph Hearst. A obra representou um marco na carreira do ator e realizador, mas quase não chegou às telas devido a problemas com o próprio Hearst.
Sua atuação e realização em “Cidadão Kane” foram aclamadas pela Academia, resultando em nomeações aos Óscares nas categorias de Melhor Ator, Melhor Filme e Melhor Realizador.
Welles se dirigiu em treze produções.
Charlie Chaplin
Mais do que um ator, Chaplin foi um artista completo que revolucionou o cinema mudo com seu talento único. O britânico foi realizador, produtor, financiador, guionista, músico, cinematógrafo e regente de orquestra.
Através da mímica e da comédia pastelão, ele deu vida a personagens imortais em filmes como “Charlot o Imigrante” (1917), “O Garoto” (1921), “Em Busca do Ouro” (considerado sua obra-prima) (1925), “O Circo” (1928), “Luzes da Cidade” (1931), “Tempos Modernos” (1936), “O Grande Ditador” (1942), “Luzes da Ribalta” (1952), “Um Rei em Nova York” (1957) e “A Condessa de Hong Kong” (1967), que marcaram a história do cinema.
O talento do artista foi reconhecido com nomeações ao Óscar de Melhor Argumento Original e Melhor Ator por “O Grande Ditador” em 1940, e novamente por Melhor Argumento Original em “Monsieur Verdoux” em 1948.
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas concedeu a Chaplin o Óscar Honorário em 1972, salientando o “efeito incomensurável que ele teve na transformação dos filmes na principal expressão artística do século XX”.
Chaplin se dirigiu em 94 produções
Bradley Cooper
O sucesso de Bradley Cooper despontou com o filme “A Ressaca” (2009), onde ele interpretou Phil Wenneck, um dos três amigos que, em Las Vegas para uma despedida de solteiro, acorda sem memória da noite anterior e precisa encontrar o noivo, Doug, antes do casamento.
O ano de 2012 marcou a virada na carreira de Bradley Cooper com uma série de filmes, incluindo “The Words”, “Hit and Run”, “The Place Beyond the Pines” e “Guia para um Final Feliz”.
A carreira de Cooper atingiu um ápice entre 2013 e 2015, com o ator acumulando nomeações aos Óscares por três anos consecutivos em diferentes categorias: Melhor Ator, Melhor Ator Secundário e Melhor Filme, consolidando seu nome como um dos grandes nomes da indústria cinematográfica.
A busca de Cooper pelo reconhecimento como realizador culminou em 2018 com “Assim Nasce Uma Estrela”, uma refilmagem do drama musical homónimo de 1937.
Além de realizar, ele também co-estrelou, co-escreveu o argumento e co-produziu o filme, que teve Lady Gaga como co-protagonista.
Cooper mergulhou de corpo e alma em “Assim Nasce Uma Estrela”, interpretando Jackson Maine, um cantor em declínio que se apaixona por Ally (Lady Gaga), uma cantora iniciante.
Apesar das críticas e do receio de que a refilmagem não fosse bem-sucedida, o ator se dedicou ao projeto com paixão e o resultado foi um filme aclamado pela crítica e pelo público.
Apesar de não ter sido nomeado ao Óscar de Melhor Realização, o ator recebeu nomeações nas categorias de Melhor Ator e Melhor Argumento Adaptado.
A 96ª edição dos Óscares representou a segunda tentativa de Cooper de ser reconhecido como Melhor Realizador. Apesar de sua dedicação à realização, assim como em seu primeiro filme, ele foi lembrado pela Academia apenas na categoria de Melhor Ator.
Em “Maestro” (2023), o público é convidado a conhecer a história de Leonard Bernstein, o maestro que redefiniu a Filarmônica de Nova York. O filme se diferencia ao dar destaque ao relacionamento de Bernstein com Felicia Montealegre (Carey Mulligan), proporcionando uma visão humana e sensível de um gênio da música que também era um homem apaixonado.