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Time waits for no one: #7 (Tinto Brass)

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«Time can tear down a building or destroy a woman’s face Hours are like diamonds, don’t let them waste.»

O erotismo em Tinto Brass: «Salon Kitty» e «Transgredire» 

Tinto Brass (1933) nascido em Itália experimentou ao longo da sua carreira como realizador o mais variado leque de géneros. No entanto, o Cinema erótico foi o género sobre o qual teve maior reconhecimento. Durante o final da década de 60 e inicio da de 70 realizou filmes com um cariz altamente moderno como «Nerosubianco» (1968) e «La Vacanza» (1971) – fez parte do júri do Festival Internacional de Berlim em 1972 – mas foi com «Salon Kitty» (1976) que a sua epopeia erótica se iniciou.

«Salon Kitty» – o primeiro grande sucesso internacional do realizador – é um impressivo relato da decadência do Terceiro Reich, baseado numa história verídica. Madame Kitty (Ingrid Thulin) é a proprietária de um dos maiores e mais luxuosos bordéis de Berlim onde muitos dos altos comandos Nazis são fregueses. Kitty é abordada por um oficial das S.S (Helmut Berger) que ordena que feche o bordel e que se torne sua associada num empreendimento que servirá apenas a elite do partido Nazi e do exército alemão. No entanto, neste novo estabelecimento as prostitutas seriam substituídas por espias treinadas e nos quartos seriam instaladas escutas. Margherita (Teresa Ann Savoy), jovem dedicada tanto ao seu trabalho como ao seu país, apaixona-se por Biondo (John Steiner) – um oficial alemão que se tornou descrente no cariz do regime – e descobre todo o intuito do bordel, juntando-se a Kitty para destruir a operação.

À altura da estreia de «Salon Kitty», os temas do erotismo, tortura, sado-masoquismo e demais perversões sexuais eram ainda tabu. Outros filmes como «The Night Porter» (1974) e «Saló» (1975) contribuíram para que, de repente, todos estes conteúdos se tornassem proeminentes no grande ecrã, abarcando toda a sua explicidade sexual, indecência e obscenidade. Mais importante do que o erotismo que apresentavam, estes três filmes eram fruto do trabalho de três reconhecidos realizadores italianos – Tinto Brass, Liliana Cavani e Pier Paolo Pasolini – recusando o sadismo gratuito e concentrando em si toda a atenção internacional.

«Salon Kitty» disseca o poder sexual no contexto da ideologia Nazi apresentando-a, assim, como um acto de perversão sexual e decadência cultural. A politização desta decadência é para Brass o propósito desta função de poder sexual na era Nazi, pois para o realizador cada poder politico parece ser medido eminentemente pelo grau da sua sexualidade. A vontade e busca pelo poder é a perversão essencial da humanidade e controlar o desejo sexual é estar, realmente, no poder. Este filme apresenta ao espectador uma notável noção de sexualidade grotesca, transformando numa piada, o contexto Nazi de auto-sacrificio por uma causa.

Em 2000, Tinto Brass realiza «Trasgredire» em que Carla (Yulya Mayarchuk) viaja até Londres sem o seu namorado e enquanto procura por um apartamento, conhece Moira (Francesca Nunzi), uma lésbica com quem vive um romance. Quando o seu namorado Mateo (Jarno Berardi) descobre algumas cartas de amor, viaja ele próprio, até à capital inglesa.

Embora o enredo não apresente uma premissa inovadora – é bastante comum até – Tinto Brass consegue mais uma vez produzir um grande filme concentrando-se apenas na beleza da Mulher. «Trasgredire» sugere-nos um estilo muito inspirado nos anos 80 que concorre de forma perfeita com a banda sonora composta pelo mestre italiano Pino Donaggio. Embora o filme pareça inevitavelmente datado – e como já foi referido em crónicas anteriores relativamente a filmes diferentes – esta é uma característica totalmente propositada e, neste caso, adequada.

Enquanto que outros realizadores do mesmo género cinematográfico, como Russ Meyer, tornam os seus filmes em comédias de gosto mais ou menos dúbio, Brass leva-os muito a sério, mesmo que seja suposto terem piada. Como alguns dizem, «Trasgredire» representa a continuação de um tipo de literatura clássica italiana, com séculos de tradição, em que o erotismo é abordado – na pior das hipóteses – de forma didáctica (note-se «Decameron» de Giovanni Boccaccio, por volta de 1350). Assim, Tinto Brass parte para a demonstração do que ele próprio entende por ‘sabedoria romântica’ e relacionamentos. Mais uma vez, tal como na obra de Boccaccio, transmite uma mensagem idiossincrática acerca das noções convencionais e moralistas de como duas pessoas apaixonadas devem conviver entre si. Ambos partem até do mesmo principio de que a infidelidade é um acontecimento inevitável. A única diferença entre os dois reside no facto de que enquanto que o escritor defende que a infidelidade deve ser ocultada e transportar consigo remorsos e perdão, Tinto Brass não entende o motivo para cada um se esconder da infidelidade, demonstrando inclusive que este fenómeno pode ser utilizado a nosso favor.

Mais do que o simples erotismo que à primeira vista é o ingrediente principal dos filmes do realizador italiano, é a sua inteligência que sobressai, demonstrando um pensamento filosófico, social e humano das relações sociais expressas através dos prazeres decadentes da nudez e do sexo.

01 - Salon Kitty
01 – Salon Kitty
02 - Trasgredire
02 – Trasgredire

Próxima publicação (30 de Abril): «La fille sur le pont» de Patrice Leconte.

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