Elas no Cinema pelo Mundo #14 - Croácia, Dinamarca, Espanha

Nós, da agenda Elas no Cinema em Lisboa, publicamos todas as sextas-feiras aqui no Cinema Sétima Arte sugestões de filmes realizados por mulheres de diferentes partes do mundo.

A ideia dessa iniciativa, inspirada pelo desafio #52FilmsbyWomen, é promover o trabalho de realizadoras de vários países ao longo do ano todo. Embora nem sempre seja possível, buscaremos priorizar filmes que estão disponíveis em plataformas de streaming ou nas salas de cinema.

CROÁCIA

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“The Staffroom”
[Zbornica, 2021]
Realização: Sonja Tarokić

O drama de estreia da realizadora e roteirista Sonja Tarokić, de 37 anos, aborda o dia a dia caótico de um colégio por meio da experiência da novata e idealista conselheira escolar Anamarija (interpretada pela ótima Marina Redžepović). Filmado de uma forma naturalista e ambientado principalmente dentro da sala dos professores, “The Staffroom” (ou seja, a sala dos professores) retrata uma mulher que precisa aceitar que não possui o controlo de tudo ao seu redor. Anamarija tenta fazer o seu trabalho e ficar de fora dos jogos de poder que envolvem diretora, professores e pais, porém falha miseravelmente. Tarokić declarou em algumas entrevistas que ter nascido em uma família de psicólogos a fez enxergar que os trabalhadores educacionais não são apenas responsáveis pelos problemas específicos dos estudantes, mas também acabam por ter o dever simbólico de transmitir valores morais. É nesta atmosfera cada vez mais angustiante que Anamarija se vê inserida e desafiada a usar a criatividade para escapar dela.

Observação: Só depois de escrever esse texto é que reparei que o filme não está mais no catálogo da Filmin (tomara que volte!).

DINAMARCA

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“Rainha de Copas”
[Dronningen, 2019]
Realização: May el-Toukhy
Disponível na Filmin

Eu sou completamente obcecada pela Trine Dyrholm – além da Fernanda Torres e da Sandra Hüller, ela é uma das minhas atrizes favoritas. Se você viu recentemente “A Rapariga da Agulha”, ela é quem interpreta a Dagmar, a mulher que faz o esquema da adoção clandestina. Trine Dyrholm, de 52 anos, é uma das maiores atrizes dinamarquesas da atualidade e a sua atuação em “Rainha de Copas” apenas comprova isso (ainda bem que a May el-Toukhy a escalou para esse papel). Neste filme, ela interpreta Anne, uma advogada super bem-sucedida, rica, bela, casada e mãe de duas filhas, porém de certa forma infeliz. Quando o seu enteado Peter (interpretado pelo Gustav Lindh) vai viver com eles, Anne muda de postura, de humor, e começa a seduzir o rapaz, criando uma relação tão íntima com ele que dá até uma angústia de assistir. Quatro anos depois de “Rainha de Copas”, a realizadora francesa Catherine Breillat lançou a sua adaptação da história, intitulada “No Verão Passado” (2023).

ESPANHA

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“20.000 Espécies de Abelhas”
[20.000 especies de abejas, 2023]
Realização: Estibaliz Urresola Solaguren
Disponível na Filmin

Para quem gosta de “Tomboy” (2011), de Céline Sciamma, recomendo muito a primeira longa-metragem da realizadora basca Estibaliz Urresola Solaguren, que é um drama que acompanha uma criança de oito anos que não se identifica com o género que lhe foi atribuído ao nascimento. Premiada com o Urso de Prata no Festival de Berlim de 2023, a jovem actriz Sofía Otero interpreta a personagem principal da história que, durante as férias de Verão com a família, tios e primos, no País Basco, começa a se sentir desconfortável com a sua identidade masculina e passa a usar pronomes femininos. Sim, a actriz mirim interpreta um menino (Aitor) que quer ser uma menina (Lucía) mas tem a alcunha meio indefinida de Coco. A realizadora aborda essa questão de um modo muito sensível e delicado, focando na vivência da criança, mas retratando também o ponto de vista de Ane (Patricia López Arnaiz), a mãe da criança, que não sabe exatamente como agir perante a situação e fica angustiada com as críticas e intervenções familiares que recebe por ser muito “condescendente” com os filhos. A cena em que Lucía escolhe usar um vestido para ir ao batizado do primo e fica em frente ao espelho com a mãe é uma das mais belas que já vi.