A poucos dias da grande noite de Hollywood, a cerimónia de entrega dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos (AMPAS), a equipa do Cinema Sétima Arte, representada por Cátia Santos, David Pinheiro, Luís Barros, Lou Loução, Pedro Ferreira, Tiago Resende e Vanderlei Tenório, apresenta as suas previsões para os possíveis vencedores da 97.ª edição dos Óscares, que se realiza a 2 de março.
Panorama da edição
A produção francesa para a Netflix, “Emilia Pérez”, realizado por Jacques Audiard, lidera as nomeações a 13 categorias, que inclui Melhor Filme, Realização, Atriz (Karla Sofía Gascón), Atriz Secundária (Zoe Saldaña), Argumento Adaptado e Filme Internacional.
“Emilia Pérez” torna-se no décimo segundo filme a receber 13 nomeações, ao lado de filmes como “E Tudo o Vento Levou” (1939), “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” (1966), “Forrest Gump” (1994), “O Estranho Caso de Benjamin Button” (2008) ou “Oppenheimer” (2023). Apenas três filmes receberam mais 14 nomeações: “Eva” (1950), “Titanic” (1997) e “La La Land” (2016).
Com 10 nomeações cada, incluindo a Melhor Filme, estão “Wicked”, de Jon M. Chu, e “O Brutalista”, de Brady Corbet. Seguem-se ainda entre os que receberam mais nomeações, “Um Completo Desconhecido” e “Conclave”, ambos com 8 nomeações, “Anora” com 6 nomeações, “Dune – Duna: Parte Dois” e “A Substância”, ambos com 5 nomeações, “Nosferatu” com 4 nomeações e “Robot Selvagem” e “Sing Sing”, ambos com 3 nomeações.
Depois de ter feito história para o cinema do Brasil nos Globos de Ouro, o filme de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui”, volta a alcançar um marco histórico, ao arrecadar três nomeações para os Óscares: Melhor Filme (primeira nomeação da história para o Brasil), Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz (Fernanda Torres, a segunda brasileira a ser nomeada para o Óscar de Melhor Atriz, 26 anos depois da sua mãe, Fernanda Montenegro).
Na realização, com quatro homens e uma mulher, os nomeados desta edição são todos estreantes na categoria: Jacques Audiard, por “Emilia Pérez”, Sean Baker, por “Anora”, Brady Corbet, por “O Brutalista”, James Mangold, por “A Complete Unknown”, e Coralie Fargeat, por “A Substância”.
Nossas previsões
Filmes
Para a equipa, “Anora”, de Sean Baker, será o grande vencedor do prémio de Melhor Filme.
A comédia dramática, que enfrentou uma competição renhida com títulos como o thriller político “Conclave”, de Edward Berger, e o drama histórico épico “O Brutalista”, de Brady Corbet, firmou-se como a favorita na fase final da temporada de prémios 2024/2025.
Com vitórias nos sindicatos mais prestigiados de Hollywood (PGA e DGA), “Anora” consolidou-se silenciosamente como um forte candidato aos Óscares. Desde 2005, 14 filmes venceram tanto o PGA como o DGA, e 11 deles acabaram por conquistar a estatueta, o que reforça a lógica por detrás da escolha da nossa equipa.
Assim como a corrida pelo prémio de Melhor Filme, a de Melhor Filme de Animação também foi bastante acirrada, mas “Robot Selvagem”, de Chris Sanders, destacou-se como o favorito e deve confirmar a vitória. A epopeia animada segue Rozzum Unidade 7134, ou simplesmente “Roz”, um robô que, após naufragar numa ilha deserta, precisa adaptar-se ao ambiente inóspito, criar laços com os animais locais e cuidar de um filhote de ganso.
Outra produção que chamou a atenção da equipa foi “Flow”, de Gints Zilbalodis, representante da Letónia em duas categorias (Melhor Animação e Melhor Filme Internacional). Sensível e visualmente encantador, o filme acompanha Gato, um felino que perde o lar numa inundação e acaba a bordo de um barco habitado por diferentes espécies de animais. A receção foi positiva, garantindo-lhe o segundo lugar na votação.
Na categoria de Melhor Documentário, o palestiniano “No Other Land”, realizado por um coletivo de ativistas e cineastas — os palestinianos Basel Adra e Hamdan Ballal, e os israelitas Rachel Szor e Yuval Abraham —, evidenciou-se como o grande favorito da temporada, obtendo unanimidade na votação da equipa. Este poderoso registo documental oferece uma perspetiva intensa e comovente sobre a resistência e a sobrevivência de um povo que, há décadas, enfrenta a ocupação israelita na Cisjordânia.
No segmento de curtas, “Anuja”, “I Am Ready”, Warden” e “In the Shadow of Cypress” são as escolhas da equipa para as categorias de Melhor Curta-Metragem Live Action, Melhor Curta-Metragem Documental e Melhor Curta-Metragem de Animação, respetivamente.
Entre os filmes internacionais, o drama histórico “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, representante do Brasil, conquistou grande parte da equipa.
Protagonizado por Fernanda Torres, o filme é ambientado no Brasil da década de 1970 e retrata um país em plena crise, cada vez mais sufocado pela repressão da ditadura militar.
Baseado nas memórias de Marcelo Rubens Paiva, a narrativa mergulha na dura realidade da família Paiva. A viver numa casa à beira-mar, a família mantém as portas sempre abertas aos amigos, encontrando no carinho e no humor partilhados uma forma subtil de resistência à opressão que domina o país.
No entanto, essa harmonia familiar é abruptamente destruída por um acto de violência sem justificação, que altera os seus destinos para sempre. Após o sequestro de Rubens pela Polícia Militar, que o faz desaparecer sob a sua custódia, Eunice vê-se obrigada a reinventar-se e a encontrar um novo caminho para si e para os filhos.
Realização
Entre os cinco nomeados na categoria de Melhor Realização, a votação foi bastante apertada, mas o grande vencedor escolhido pela equipa foi Sean Baker de “Anora”, com 4 votos. Brady Corbet, de “O Brutalista”, ficou em segundo lugar, com 3 votos.
Ambos foram reconhecidos pelos seus estilos de realização distintos: enquanto Baker adopta uma abordagem mais naturalista, Corbet segue um estilo mais formalista, representando duas vertentes da linguagem cinematográfica actual.
Além do apoio da equipa, Baker também desfruta do favoritismo dos seus colegas realizadores, tendo já conquistado o DGA. Vale ressaltar que, em 77 edições do DGA, 65 dos vencedores acabaram por levar para casa a estatueta.
Interpretação
Entre as intérpretes, Fernanda Torres conquistou unanimidade da equipa na categoria de Melhor Atriz, graças à sua performance arrebatadora em “Ainda Estou Aqui”. A nomeação de Torres acontece 26 anos depois de sua mãe, a imensa Fernanda Montenegro, ter sido nomeada na mesma categoria, em 1999, pelo seu papel icónico da professora Dora em “Central do Brasil”, também realizado por Salles.
Todavia, de acordo com outras publicações do sector e considerando as vitórias mais recentes, Demi Moore, de “A Substância”, parece ter o Óscar de Melhor Atriz praticamente assegurado.
Embora Mikey Madison tenha sido cogitada após vencer o Bafta por sua atuação em “Anora”, a veterana firma-se como favorita depois de conquistar o SAG. Desde 1994, a vencedora do SAG só não levou o Óscar em sete ocasiões.
No campo masculino, a aposta da equipa recai sobre Adrien Brody, cuja densidade em “O Brutalista” lhe garantiu o maior número de votos, três no total. Os restantes quatro votos foram divididos entre Timothée Chalamet, pela sua incorporação de Bob Dylan em “Um Completo Desconhecido”, e Ralph Fiennes, pela sua delicada e silenciosa interpretação do Cardeal Lawrence em “Conclave”.
Desde o início da temporada, Brody tem sido apontado como o favorito a conquistar a estatueta. Se vencer, será a sua segunda vitória como Melhor Ator; a primeira ocorreu há 22 anos, por sua interpretação no drama histórico de guerra “O Pianista”, de Roman Polanski.
Por sua vez, Fiennes regressa à categoria de Melhor Ator 28 anos depois de ter sido nomeado por “O Paciente Inglês”, de Anthony Minghella. Chalamet, por sua parte, volta a ser nomeado sete anos após sua indicação por “Chama-me Pelo Teu Nome”, de Luca Guadagnino.
O sindicato dos atores gerou dúvida sobre o favoritismo de Brody, que já havia conquistado todos os prémios até então, ao escolher Chalamet. Se o jovem não levar o Óscar, será apenas o sexto vencedor do SAG a não conquistar a estatueta. Com isso, apesar de Brody ser o favorito, pode haver uma surpresa na hora da revelação do vencedor.
Entre os secundários, Kieran Culkin, por “A Verdadeira Dor”, foi a escolha unânime da equipa.
No que lhe toca, Zoe Saldaña, com a sua performance em “Emilia Pérez”, arrecadou a maior parte dos votos, cinco no total. Os dois restantes votos foram para Ariana Grande, reconhecida pela sua actuação no musical “Wicked”.
Culkin é o grande favorito à estatueta de Melhor Ator Secundário, após uma impressionante trajectória na temporada de prémios. Conquistou o SAG, o Bafta, o Critics’ Choice, o Globo de Ouro e o Independent Spirit, além de outros 17 prémios atribuídos por associações de críticos e seis distinções em festivais de cinema.
Apesar das polémicas envolvendo o seu filme, Saldaña é, sem dúvida, a grande favorita para conquistar a estatueta de Melhor Atriz Secundária. Ela já ganhou o SAG, o BAFTA, o Critics’ Choice, o Globo de Ouro, o Prix d’Interprétation Féminine em Cannes, além de outros 15 prémios em círculos, associações e festivais.
Argumento
Entre os argumentos, na categoria de Melhor Argumento Adaptado, o texto de “Conclave”, da autoria de Peter Straughan e baseado no livro homónimo de Robert Harris, destacou-se ao obter a maioria absoluta dos votos da equipa, com seis dos sete votos.
O enredo de “Conclave” inicia-se com a morte do Papa, vítima de uma doença grave. Diante disso, o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é encarregado de coordenar o conclave, a cerimónia em que os cardeais se reúnem para eleger um novo Sumo Pontífice. Entretanto, à medida que a votação avança, Lawrence vê-se envolvido em disputas acirradas e segredos perturbadores que tornam o processo ainda mais complexo. Para agravar a situação, uma descoberta devastadora ameaça abalar os alicerces da Igreja Católica.
Já na categoria de Melhor Argumento Original, a competição foi mais acalorada, terminando num empate entre “Anora”, de Sean Baker, “A Verdadeira Dor”, de Jesse Eisenberg, e “A Substância”, de Coralie Fargeat, todos com dois votos cada.
Parte técnica
Na área técnica, os votos da equipa demonstraram um alinhamento claro nas previsões. Em Melhor Fotografia, “O Brutalista”, com a sua estética imponente, deve garantir a vitória de Lol Crawley. Já “Conclave” deverá levar Nick Emerson à conquista da estatueta de Melhor Edição.
Em Melhor Maquilhagem e Cabelos, o trabalho de Pierre-Olivier Persin, Stéphanie Guillon e Marilyne Scarselli em “A Substância” é o grande favorito, enquanto “Dune – Duna: Parte Dois” deverá dominar nas categorias de Melhor Design de Produção, Melhor Som e Melhores Efeitos Especiais, reafirmando o poder visual e sonoro da produção de Denis Villeneuve.
O figurino clerical de Lisy Christl para “Conclave” recebeu quatro votos da equipa. Na música, a composição de Daniel Blumberg para “O Brutalista” é a favorita na categoria de Melhor Banda Sonora. Já em Melhor Canção Original, registou-se um empate entre “El Mal”, escrita pelo casal Camille e Clément Ducol para “Emilia Pérez”, e “Never Too Late”, de Elton John, Brandi Carlile, Andrew Watt e Bernie Taupin, composta para “Elton John: Never Too Late”.
Previsões
Melhor Filme
Anora (NEON)
O Brutalista (A24)
Um Completo Desconhecido (Searchlight)
Conclave (Focus Features)
Dune: Part Two (Warner Bros.)
Emilia Pérez (Netflix)
Ainda Estou Aqui (Sony Pictures Classic)
Nickel Boys (Orion Pictures/Amazon MGM Studios)
A Substância (MUBI)
Wicked (Universal)
Melhor Realização
Jacques Audiard, por Emilia Pérez
Sean Baker, por Anora
Brady Corbet, por O Brutalista
James Mangold, por Um Completo Desconhecido
Coralie Fargeat, por A Substância
Melhor Ator
Adrien Brody, em O Brutalista
Timothée Chalamet, em Um Completo Desconhecido
Colman Domingo, em Sing Sing
Ralph Fiennes, em Conclave
Sebastian Stan, em The Apprentice
Melhor Atriz
Cynthia Erivo, em Wicked
Karla Sofía Gascón, em Emilia Pérez
Mikey Madison, em Anora
Demi Moore, em A Substância
Fernanda Torres, em Ainda Estou Aqui
Melhor Ator Secundário
Yura Borisov, em Anora
Kieran Culkin, em A Verdadeira Dor
Edward Norton, em Um Completo Desconhecido
Guy Pearce, em O Brutalista
Jeremy Strong, em The Apprentice
Melhor Atriz Secundária
Monica Barbaro, em Um Completo Desconhecido
Ariana Grande, em Wicked
Felicity Jones, em O Brutalista
Isabella Rossellini, em Conclave
Zoe Saldaña, em Emilia Pérez
Melhor Argumento Original
Anora
O Brutalista
A Verdadeira Dor
A Substância
Setembro 5
Melhor Argumento Adaptado
Um Completo Desconhecido
Conclave
Emilia Pérez
Nickel Boys
Sing Sing
Melhor Filme de Animação
Flow
Divertida-Mente 2
Memórias de um Caracol
Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl
Robot Selvagem
Melhor Filme Internacional
Ainda Estou Aqui (Brasil)
A Rapariga da Agulha (Dinamarca)
Emilia Pérez (França)
A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha)
Flow (Letónia)
Melhor Documentário
Black Box Diaries
No Other Land
Porcelain War
Soundtrack to a Coup d’Etat
Sugarcane
Melhor Fotografia
O Brutalista
Dune: Part Two
Emilia Pérez
Maria
Nosferatu
Melhor Guarda-Roupa
Um Completo Desconhecido
Conclave
Gladiator II
Nosferatu
Wicked
Melhor Edição
Anora
Conclave
Emilia Pérez
Wicked
O Brutalista
Melhor Maquilhagem e Cabelo
A Different Man
Emilia Pérez
Nosferatu
A Substância
Wicked
Melhor Banda Sonora Original
O Brutalista
Emilia Pérez
Conclave
Wicked
Robot Selvagem
Melhor Canção Original
“Mi Camino”, de Emilia Pérez
“El Mal”, de Emilia Pérez
“Never Too Late”, de Elton John: Never Too Late
“The Journey”, de The Six Triple Eight
“Like a Bird”, de Sing Sing
Melhor Design de Produção
O Brutalista
Conclave
Dune: Part Two
Nosferatu
Wicked
Melhor Som
Um Completo Desconhecido
Dune: Part Two
Wicked
Emilia Perez
Robot Selvagem
Melhores Efeitos Visuais
Alien: Romulus
Better Man
Dune: Part Two
O Reino do Planeta dos Macacos
Wicked
Melhor Curta de Animação
In the Shadow of Cypress
Wander to Wonder
Yuck
Magic Candies
Beautiful Men
Melhor Curta Live-Action
A Lien
Anuja
I’m Not a Robot
The Last Ranger
The Man Who Could Not Remain Silent
Melhor Curta Documental
Death by Numbers
I Am Ready, Warden
Incident
The Only Girl in the Orchestra
Instruments of a Beating Heart