Elas no Cinema pelo Mundo #33 - Argélia, União Soviética, Arménia

No “Elas no Cinema pelo Mundo” desta semana, escolhi três filmes em que a guerra afeta as possibilidades de vida, desde o seu começo, quando o conservadorismo escalona, no seu decorrer, em que há territórios ocupados e os percursos são inóspitos, até às devastações do seu fim, em que há um conflito entre ficar e recomeçar em outro lugar.

A agenda Elas no Cinema em Lisboa publica todas as sextas-feiras no Cinema Sétima Arte sugestões de filmes realizados por mulheres de diferentes partes do mundo. A ideia dessa iniciativa, inspirada pelo desafio #52FilmsbyWomen, é promover o trabalho de realizadoras de vários países ao longo do ano todo. Confira no fim do artigo a lista com as publicações anteriores.

ARGÉLIA

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“Papicha”
[2019]
Realização: Mounia Meddour

“Papicha” passa-se em 1997, na Argélia, quando a guerra civil argelina escalona para um conservadorismo ligado ao Estado Islâmico que oprime as mulheres. Os corpos e roupas das mulheres são controlados e o acesso a espaços públicos fica restrito. A jovem estudante Nedjma, de 18 anos, sonha em ser estilista e se recusa a acatar os novos valores sociais passivamente. Ela continua a seguir com a sua vida normalmente e decide lutar pela liberdade e independência realizando um desfile de moda.

A realizadora Mounia Meddour nasceu em Moscou, e viveu na Argélia nos anos 1990, também aos 18 anos. Para ela, era um desejo pessoal mostrar a Argélia vista por dentro, de um ponto de vista de uma jovem, para que mais pessoas saibam da guerra civil que aconteceu nessa época. O filme esteve na seleção oficial de Un Certain Regard, em Cannes.

UNIÃO SOVIÉTICA

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“Ascensão”
[Voskhozhdenie, 1977]
Realização: Larisa Shepitko
Disponível na Filmin

No cultuado “Ascensão”, durante a Segunda Guerra Mundial, dois soldados soviéticos afastam-se do seu pelotão em busca de alimentos numa quinta próxima. Os alemães chegam primeiro ao local, e os dois soldados são obrigados a caminhar no interior da floresta, numa tentativa de encontrar refúgio junto dos camponeses. Esta viagem pelo território ocupado é também uma viagem ao seu interior, já que a angustiante caminhada os leva numa jornada de traição, heroísmo e transcendência.

“Ascensão” ocupa a posição 128 da célebre lista da Sight and Sound, The Greatest Films of All Time, votada por críticos, programadores, curadores, arquivistas e académicos. Na lista votada pelos realizadores, ocupa a 72.ª posição. A realizadora Larisa Shepitko nasceu na União Soviética e teve a sua infância fortemente abalada pela guerra, com os pais divorciados, a família separada e com os desafios da fome e de serem evacuados. Estudou na escola de cinema e foi aluna de Alexander Dovzhenko, um dos grandes cineastas soviéticos, por quem sentiu uma forte afinidade pelo estilo de imagens de realismo social. Na Filmin há outros dois títulos da realizadora disponíveis: “Tu e Eu” (1971), e “Asas” (1966).

ARMÉNIA

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“The Lighthouse”
[Mayak, 2006]
Realização: Mariya Saakyan

Situado na Arménia do Norte, nos anos 1990, Lena regressa à casa dos avós num pequeno vilarejo na Arménia que foi destruído pela guerra. Ela implora para eles viverem consigo em Moscovo, onde estarão mais seguros, mas eles hesitam em deixar o vilarejo. Lena fica para ajudá-los na reconstrução e encontra-se atraída pelo ambiente familiar que um dia ela escolheu deixar para trás.

“The Lighthouse” escapa dos clichés de filme de guerra ao incorporar uma perspectiva assombrosa e apocalíptica em que a melancolia onírica toma conta. “The Lighthouse” é a primeira longa de Maria Saakyan e foi também a primeira longa realizada por uma mulher na Arménia. Os negativos do filme foram perdidos e a versão disponível atualmente foi digitalizada de uma cópia restante em 35mm.