Elas no Cinema pelo Mundo #32 – Geórgia, Jordânia, Zâmbia

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A agenda Elas no Cinema em Lisboa publica todas as sextas-feiras no Cinema Sétima Arte sugestões de filmes realizados por mulheres de diferentes partes do mundo.

A ideia dessa iniciativa, inspirada pelo desafio #52FilmsbyWomen, é promover o trabalho de realizadoras de vários países ao longo do ano todo.

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GEÓRGIA

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“April”
[2024]
Realização: Dea Kulumbegashvili
Disponível na Mubi Brasil

A segunda longa-metragem da realizadora georgiana Dea Kulumbegashvili trata da complicada situação das mulheres que buscam pelo aborto na Geórgia, país em que cerca de 14% das meninas se casam antes dos 18 anos. Vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza, essa ficção acompanha a médica obstetra Nina (interpretada por Ia Sukhitashvili), a única que atende as mulheres que precisam do procedimento em uma comunidade rural na Geórgia. Ela também passa a ser investigada por negligência após fazer o parto de um bebé natimorto no hospital em que trabalha. Não é um filme nada fácil de ver. Possui cenas demoradas que propositalmente causam desconforto. Em entrevista ao New York Times em abril deste ano, a realizadora, que mora em Berlim, contou que “April” não foi exibido na Geórgia e que não se sente bem-recebida lá. Ela também disse que o filme foi “basicamente feito em segredo” e que o acesso ao aborto tem sido cada vez mais prejudicado por obstáculos burocráticos e pela agenda conservadora do governo atual, o que, infelizmente, não é algo exclusivo da Geórgia.

Dica bônus: ouçam os 3 episódios do podcast “Sala de espera”, produzido pelo Rádio Novelo, que aborda como o acesso ao aborto legal no Brasil também está sofrendo constantes ameaças.

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JORDÂNIA

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“Farha”
[2021]
Realização: Darin J. Sallam
Disponível na Netflix

Eu vou dar 4 motivos para vocês assistirem a esse filme: 1) É uma ficção baseada em factos reais e é a primeira longa da jordaniana, com raízes palestinianas, Darin J. Sallam. Uma grande estreia dela como realizadora e guionista; 2) Retrata os eventos fundadores da Nakba (“catástrofe”, em árabe). Em 1948, cerca de 750 mil pessoas – aproximadamente metade da população predominantemente árabe da Palestina – foram violentamente expulsas de suas casas pelo exército israelense. Uma limpeza étnica promovida por Israel, com o apoio da Europa, que continua até hoje; 3) O filme retrata uma rapariga palestiniana de 14 anos, que está prestes a se mudar para a cidade, realizando o seu sonho de estudar, quando a sua aldeia é atacada pelos militares israelenses. O pai dela a esconde na despensa da casa e ela presencia toda a crueldade praticada contra o seu povo. É incrível a performance da actriz estreante Karam Taher, que interpreta a personagem a Farha; 4) Quando o filme estreou na Netflix, Israel tentou proibir a sua exibição, acusando-o de antissemitismo. Muitos israelenses negam que a Nakba aconteceu (e que vem acontecendo). A realizadora deu uma entrevista em vídeo ao canal da Al Jazeera para explicar melhor esse boicote ao seu filme.

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ZÂMBIA

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“On Becoming a Guinea Fowl”
[2024]
Realização: Rungano Nyoni

“On Becoming a Guinea Fowl” (“Sobre se tornar uma galinha-d’angola”, em tradução livre) é a segunda longa-metragem da realizadora zambiana Rungano Nyoni. A sua estreia na realização foi com “Eu Não Sou Uma Bruxa”, de 2017, que eu adorei e que também traz questionamentos importantes a respeito de certas tradições ancestrais. Sete anos depois, a minha expectativa estava bem alta para “On Becoming a Guinea Fowl”, que eu vi no Indielisboa deste ano. A trama ficcional acompanha a protagonista Shula (Susan Chardy), uma mulher de 40 anos que encontra o corpo de seu tio Fred no meio de uma estrada deserta na Zâmbia. Conforme começam os procedimentos do funeral (em um ritual cheio de protocolos), Shula estreita relações com as suas tias e primas e acaba descobrindo que a sua família guarda muitos segredos (sem mais spoiler). Além de vencer o Grande Prémio do Indielisboa, o filme também ganhou como melhor realização da mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, porém, infelizmente acredito que ainda esteja sem distribuidora em Portugal – apesar de ter o “selo A24” (produtora e distribuidora estadunidense de filmes indies adorada pela cinefilia).

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Confira as nossas recomendações passadas:

#1 – Palestina, Chile, Argentina
#2 – Afeganistão, África do Sul, Albânia
#3 – Canadá, Grécia, Peru
#4 – Alemanha, Angola, Arábia Saudita
#5 – México, Nova Zelândia, Irão
#6 – Áustria, Bangladesh, Bélgica
#7 – Inglaterra, Itália, Estados Unidos
#8 – Brasil, Bulgária, Colômbia
#9 – França, Venezuela, Geórgia
#10 – Arménia, Bósnia e Herzegovina, Costa Rica
#11 – Filipinas, República Dominicana, Tunísia
#12 – Finlândia, Hungria, Índia
#13 – Turquia, Kosovo, Singapura
#14 – Croácia, Dinamarca, Espanha
#15 – Senegal, Vietname, China
#16 – Hong Kong, Japão, Líbano
#17 – Portugal
#18 – Paraguai, Nicarágua, Cuba
#19 – Austrália, Marrocos, Porto Rico
#20 – Estónia, Lituânia, Mongólia
#21 – Líbano, Chile, Argentina
#22 – Brasil, Iémen, Tailândia
#23 – Palestina, França, Japão
#24 – Estados Unidos, Luxemburgo, Noruega
#25 – Guiné-Bissau, México, Paraguai
#26 – Macedónia do Norte, Países Baixos, Polónia
#27 – Roménia, Guatemala, Brasil
#28 – Chéquia, Malásia, São Tomé e Príncipe
#29 – Martinica, Suécia, Coreia do Sul
#30 – Irlanda, Rússia, Síria
#31 – Espanha, Quirguistão, Canadá